O estranho caso do garoto pacato
Todos os dias,na mesma hora,com a mesma roupa,cabelos bagunçados e olhar triste,o garoto sentava num banco da praça e passava a olhar todas as pessoas que ali passavam.Ele as olhava,mas era quase invisível para as mesmas.Quando alguém,por distração o olhava,logo se mexia no banco e saía dali depois de poucos minutos.Sempre julgava que ninguém gostava da forma como era e das coisas que pensava.
Nos últimos dias do ano,quando as pessoas pareciam estar mais "acolhedoras",o garoto percebeu que mais de uma pessoa olhava para ele.Dessa vez não era por pura distração.Elas o olhavam fixamente.Na mente dele,por pura pena,por parecer tão pacato e não conseguir expor nem um pouco da ansiedade e necessidade que sentia em conhecer todos e fazer amigos.De fato,ele era sim alguém só.Era um alguém distante.Distante do presente e do futuro.Seus pensamentos não saíam daquele passado assustador que tivera que viver com aqueles que considerava amigos mas que pouco tempo depois,descobriu ser seus piores inimigos.
Sabia que não tinha mais que se fixar nesse monstruoso passado.Tinha agora que pensar e fazer de tudo para que seu futuro fosse tudo,menos parecido com seu passado.Sentou-se novamente em um banco,só que agora numa outra praça.Distraído,nem viu um senhor,com cabelos já brancos,roupa antiga,um pouco corcunda e usando bengala,sentar ao seu lado.Olhou o garoto dos pés à cabeça,balançou os ombros e pôs-se a assobiar.Não se sabe se o garoto percebeu sua presença por conta do seu assobio ou por simplesmente não ter mais nada para pensar.O que se sabe,é que o garoto e o senhor conversaram por um longo tempo.Ambos muito sérios e não interrompendo a fala do outro.
O último pensamento do garoto logo depois da conversa foi:
-----Não quero ser assim quando estiver velho.
O último pensamento do senhor ao deixar o garoto sentado no banco sozinho e seguir seu caminho de volta para casa foi:
----Só não queria que ele seguisse meu caminho.