CHUTE AO GOL

CHUTE AO GOL.

Todos os meus amigos sabem que eu sou torcedor do meu querido Fluminense, e nesta quarta feira passada a minha emoção foi ao um grau elevadíssimo ao ver aquele jogo contra o São Paulo, onde eu confesso que não fazia muita fé que o meu time pudesse passar, porque teria de vencer a partida com a diferença de dois gols. Porém apesar de estar um tanto incrédulo, a esperança permanecia, visto que logo aos 12 minutos do primeiro tempo já iniciamos ganhando com um gol do centro avante que há 8 jogos não fazia um golzinho sequer.

A partida seguiu o seu percurso natural, onde o São Paulo empatou já no segundo tempo, e a partir dali as esperanças poderiam ser desvanecidas, se não logo após houvesse o desempate e já nos últimos minutos do segundo tempo o nosso gol não saísse através exatamente daquele centro avante. Um gol pra lavar a alma de nós todos tricolores.

Final do jogo, lágrimas, emoção a toda prova, isto porque um time considerado como inferior, visto que o adversário trazia em sua bagagem a vantagem de ter vencido o primeiro jogo, e além do mais também tinha um histórico de 9 participações na copa Libertadores das Américas.

Ao estarmos vencendo por 2x1 e precisarmos de mais um gol no final da partida, um escanteio surge já nos últimos minutos, eram 46, instantes finais. Lançada a bola para a grande área e como um intrépido aquele homem cardíaco, diabético, ergue-se junto com mais 3 adversários e num movimento de rara beleza, cabeceia a bola no canto superior da trave, sem dar chances ao bom goleiro que nada pode fazer.

Nas entrevistas, o centro avante humilde e sincero nas suas ponderações, relata que naquele derradeiro instante percebia que ali era o momento decisivo praquela partida., não titubeou e mesmo diante das tantas dificuldades , de tantas cobranças, de tantas pressões psicológicas de todas as partes, manteve-se firme na sua posição e no momento propício atirou pro gol. O choro que deixa fluir após a vitória é o reflexo da satisfação do êxito, das lembranças que já teria passado na vida, nas oportunidades que tivera pra largar tudo, mas também do apoio decisivo dos verdadeiros amigos que sempre acreditaram nele e na sua fé estabelecida quando afirmara interiormente, Eu posso, Eu consigo, Eu quero.

Nas nossas vidas, quantas vezes já não deparamos por circunstâncias parecidas? Quantas vezes já não nos vimos sem forças, inebriados por aqueles que preferem anular a nossa garra, demonstrando que o nosso sonho é irreal , fantasioso, utópico.

O homem que deixa de sonhar já está a beira da morte, mas aquele que nos impressiona a nos mostrar que os nossos sonhos não podem ser realizados, esses são os que esqueceram de viver, são mortos vivos, permanecem quais aqueles espíritos desencarnados e que não se deram conta que já não fazem parte do mundo dos encarnados. Permitirmo-nos a essas influências é nos deixar contaminar pelo seu hálito nefasto que nos impressiona os sentidos, paralisando-nos no ontem tal como eles.

Traçando uma analogia ao mundo futebolístico, costumamos afirmar que há momentos na vida que temos que chutar ao gol, corremos o risco de termos todos os torcedores a nos enxovalhar de vaias pelo chute totalmente fora do esquadro? Sim, mas também poderemos ter a imperdível possibilidade de sermos consagrados pelo tento da vitória e os louros da consagração da ousadia.

Parabéns ao meu querido time do coração Fluminense, parabéns também a todas as pessoas que sabem ousar, que não tem medo de errar. Aquele que nunca errou, certamente é aquele que nunca tentou. De que adianta viver num oásis de orações sem se permitir sujar as mãos no trabalho renovador.

Santo somente o é aquele pecador que não desistiu de tentar.

Pode-se conseguir toda estabilidade mental, material numa encarnação, mas de que vale tudo isso se em meio a essa luta não se amou, não se buscou renovar-se.

A previdência é uma providência insofismável, a cautela nunca haverá de ser desconsiderada, todavia as grandes revoluções que mudaram o mundo sempre saíram daqueles que um dia fizeram diferente do arquétipo viciado e ultrapassado. Dos braços daqueles que não temiam. Daqueles que não se fizeram submissos aos caprichos dos seus suseranos.

Somos o que cremos, nossas crendices podem ser paralisantes ou estimulantes. O nosso futuro não existe num lugar circunscrito, ele é todos os dias construído através das nossas escolhas, das nossas opções que acatamos e decidimos seguir.

Há uma nuvem de testemunhas que nos seguem influenciando-nos para um lado ou para o outro, a decisão é por nossa conta.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)

23/05/08