Natalie e a Sublimação do Ódio

Natalie e a Sublimação do Ódio

Nat ruminava seus ódios, tentando os dominar em esforço supremo através da magia do pensamento Sabia que caso matasse,teria todas as razões para isto e não havia quem em Riocomprido,sabedores do crime hediondo que se abatera sobre sua vida, não estivesse a par do acontecido. Entretanto, matar outrem é contra lei,além dela ir parar na cadeia,por isso seus conhecidos,ultimamente cuidavam dela e a protegiam,minimizando o caso.Na vida tomou outra decisão e se encaminhou à justiça sendo ajudada por um ótimo advogado.

Portanto,era só com seus pensamentos que tinha de lidar.E a imaginação corria fértil!Quem não sentiu quando bem motivado desejo de matar?Todos ,mas fica só na magia da fantasia,isto é,não é concretizado.Quem já não ouviu dos menos discretos a frase:

-É de matar!!! Ela, entretanto, achava o assassinato algo muito desumano, brutal , preferia se matar a fazer isto a outro, não combinava com a sua maneira de ser. Sensitiva e intuitiva , acabou por chegar à conclusão que tinha sido acionada e impulsionada para que fizesse justiça com as próprias mãos. As pessoas desconhecidas incentivavam seu ódio com comentários e,ao invés de a confortar tornavam as coisas mais difíceis do que já eram para ela. Resolveu dar o contra nesta pequena sociedade. Ficou em casa muito tempo para elaborar o ódio. Tinha medo de si nesta época, medo de sair e perder a cabeça .Parou de tomar o aperitivo habitual ,pois percebeu que o álcool intensificava a sua raiva, quase a cegava.

Relaxada ,deitada ,deixava neste momento todas as suas fantasias sobre crimes, mortes e assassinatos fluírem pelo seu cérebro buscando se aliviar:

-"Entro na Internet e localizo um matador profissional como o "Especialista", daquele filme com a Sharon Stone. Pago, e ele mete bombas em todos que me maltrataram. Vejo os explodir.Olho bem para que saibam que fui eu quem mandou, para que morram com ódio , todo o ódio que tive de controlar e digerir por estes anos. Depois fico com o especialista! Ôba! Tomara que seja charmoso como o da Stone...Não, esta vingança não serve. Escolho outra. Já sei, aquela de casar com um homem cheio de dinheiro, mesmo que não goste, e fazer todos irem à banca rota Ah! Ainda é pouco! Quem sabe uma tortura, devagarinho, como eles me fizeram, ano após ano, dia após dia, vendo berrar, implorar perdão, chorar, suar de dor e enquanto eu como lagosta nas suas caras , lhes sirvo ração de porcos. Éi ! Esta é a melhor! Mas como realizar? Tenho que encontrar um alpendre e depois os seqüestrar e depois...

Nat acordou do devaneio dos sonhos irrealizáveis já noite fechada. Sentiu se aliviada, ao poder pensar em todas as vinganças, mortes e torturas, sem sentir culpa. Descarregou a tensão. Levantou, ligou a música clássica favorita bem suave e foi fechar o janelão que dava para a sacada, quando um pássaro ferido com uma asinha quebrada caiu para dentro de casa.Nathalie o segurou, viu os olhos assustados da ave e, comovida, lhe respondeu com lágrimas e sorrisos.

Em verdade ria dela que há segundos atrás planejava crimes. Deu gargalhadas da assassina que vivia e existia em sua fantasia, pois a verdade era outra: uma mulher muito afetiva que não resistia sequer a enxergar dor nos olhos de um pássaro. Tratou o cuidadosamente, temendo que não pudesse mais voar para a liberdade, mas um dia,assim como veio, ele se foi. Curado no amor, decolou para o espaço .

O mesmo amor que ela teve com a ave a levou a superar e a vencer o ódio destrutivo com quem durante tantos anos conviveu, e, então como o passarinho, recuperou a liberdade . Adquiriu a chave do seu mundo tristonho há tantos anos e o transformou em risonho, ao recuperar a crença no seu amor abriu a porta de suas emoções amorosas. Estava escancarado um novo universo. Serena, abriu as asas, sublimou, e voou para a poesia...

Olhar

E lá no fundo ,

bem lá no fundo do meu olhar,

vais encontrar toda a tristeza do mundo .

Suzana Heemann

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 23/05/2008
Reeditado em 28/06/2008
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