O Cidadão e a Cidade
A casa em si mesma não representa tudo para o homem.
Sua verdadeira casa é a cidade. Esta afirmativa tem
sentido à partir do momento que a cidade representa para
o indivíduo a sua própria identificação como pessoa, ou
seja, do cidadão participante da vida da urbe que o
abriga. A casa é o seu refúgio e o seu castelo. Nela o
indivíduo se sente livre para vôos mais ousados e se vê
como um herói de aventuras subjetivas. Em casa ele é o
ser que é. Entretanto, a casa não está insulada, outros
elementos à sua volta forma um todo que dão um
significado encantador a tríade: homem-casa-cidade.
É a “minha rua”, o “pessoal da praça” onde se cresce
brincando, o “grupo escolar” (privilegiado grupo de
pessoas fora do convívio familiar) onde acontece o
contato com as primeiras “tias”. Estas particularidades
torna a cidade a autêntica casa, e o lar, a real morada.
Há um vínculo muito forte entre o homem e a cidade,
pois, as “pessoas do lugar”, a “turma do barulho”, o
“portuga” da padaria, o mercado, o cinema, os vizinhos e,
porque não dizer,o própri indivíduo, são características
fundamentais do “lugar onde se mora”. Estes elementos
são sementes das futuras lembranças da “minha terra”,
que, passando pela “minha cidade” conduz o saudosista
até a doce e final lembrança do “lar onde eu morava.”
Não deve haver antagonismo entre o homem e a sua
cidade, pelo contrário, a harmonia deve ser a tônica entre
um e outro. A cidade tem a missão de oferecer ao “fruto
do seu ventre” condições de conforto, segurança e
prosperidade, humanizando-os, para que cresçam
servindo-a, preservando-a e amando-a, pois, do
contrário, havendo humilhação, indignação e revolta
consequentemente o resultado será um grande êxodo
que fará da cidade um lugar sem memória e caída no
esquecimento.
O progresso tem desfigurado a cidade. No afã de realizar
o sonho da “cidade do futuro” percebe-se a perda da
“alegria natural” da cidade. As cidades estão sendo
transformadas em “grandes centros urbanos”, em
“grandes metrópoles” ou outro monstro qualquer. Estão
deixando de ser receptivas e cordiais e, à medida que o
progresso avança, estão cada vez mais desconfiadas e
mudas. A cada dia que passa o indivíduo na sua própria
casa, a cidade, está sendo impelido por uma força
sobrenatural que o obriga a não raciocinar, ou melhor
dizendo, refreando a sua faculdade inata de refletir,
embotado que está pelo ente necessidade, ser poderoso
que está sempre ordenando que o homem se apresse,
que não pare, que não perceba o sublime e o belo, que
não viva, apenas se mova. Vida sem vida.
Atualmente a cidade oprime seus habitantes. Subjuga-os.
Trata-os como nada. Soberba por sua grandiosidade
arquitetônica despreza aqueles que pisam o seu solo,
não levando em conta que foram estes que a
presentearam com a dignidade que hoje ostenta. Não há
mais o aconchego e a reciprocidade carinhosa de quem
se ama. O que se vê são acusações mútuas pela perda
da harmonia que os faziam declarar juras de amor eterno.
Cristalina é a percepção do ciclo de uma cidade que
perdeu a capacidade de ninar e zelar pelo bem-estar de
seus filhos: o silêncio da aurora; os tentáculos pasmosos
do “rush”, minando a energia dos viajantes matinais; o
burburinho do horário comercial e os gemidos e “ais”
abafados dos macilentos que perambulam em busca de si
mesmos antecede um novo silêncio da aurora.
Cidades mecanizadas e devoradas pelo frenesi
inquietante do vai-e-vem daqueles que não discerne os
seus próprios destinos. Transfigurados combatentes de
sorrisos irônicos na batalha do ser, do ter e do poder.
Peregrinos e forasteiros.Na cidade grande cessa a
amizade e o diálogo. Escravos do “deus” dinheiro vivem
em busca de seu mestre, porém, mesmo sem encontrá-lo
o adoram.
O refúgio dos escravos da cidade monstros são os “week-
ends”, quando, isolados e escatelados em seus lares
buscam vigor, trancados atrás dos muros que os
aprisionam novamente. E dizem que são livres. Reclusos
que tentam se ver e se conhecer. Por algumas horas
deixam de ser números de algum cadastro, não fazem
parte de estatísticas e nem são “conhecidos” pelos seus
“perfis” (leia-se, cifras). Ali, na segurança de uma “prisão
domiciliar”, o indivíduo é chamado de “seu fulano.”
Entretanto, a despeito de tudo isso, é preciso amar a
cidade. Não existe o “meu lugar,” a “minha terra,” e a
“minha origem” à parte da cidade. Há uma interação
entre a cidade e o seu munícipe. Estão jungidos para que
ambos sobrevivam. O progresso de uma cidade não deve
prejudicar a amizade entre ela e seus habitantes, antes, é
necessário um amoldamento, um complemento para que
não sejam subtraídos. É fundamental não haver
infensidade entre a cidade e os indivíduos, pelo contrário,
ambos devem encontrar entre si motivos e motivações
que enraízem as suas existências. Cumplicidade é o que
os unem, capacitando-os para sobreviver aos ataques
mortíferos das “High-tec”, que os assolam, objetivando
transformá-los em uma triste realidade cinza, ou seja, ele,
o indivíduo, sem lançar mão de sua massa cinzenta, ela,
a cidade, em um cinza mórbido e insonso das “Torres”
dos “Words” e dos “Centers” sem mensagem de vida,
cansadas e sem encanto.
A casa em si mesma não representa tudo para o homem.
Sua verdadeira casa é a cidade. Esta afirmativa tem
sentido à partir do momento que a cidade representa para
o indivíduo a sua própria identificação como pessoa, ou
seja, do cidadão participante da vida da urbe que o
abriga. A casa é o seu refúgio e o seu castelo. Nela o
indivíduo se sente livre para vôos mais ousados e se vê
como um herói de aventuras subjetivas. Em casa ele é o
ser que é. Entretanto, a casa não está insulada, outros
elementos à sua volta forma um todo que dão um
significado encantador a tríade: homem-casa-cidade.
É a “minha rua”, o “pessoal da praça” onde se cresce
brincando, o “grupo escolar” (privilegiado grupo de
pessoas fora do convívio familiar) onde acontece o
contato com as primeiras “tias”. Estas particularidades
torna a cidade a autêntica casa, e o lar, a real morada.
Há um vínculo muito forte entre o homem e a cidade,
pois, as “pessoas do lugar”, a “turma do barulho”, o
“portuga” da padaria, o mercado, o cinema, os vizinhos e,
porque não dizer,o própri indivíduo, são características
fundamentais do “lugar onde se mora”. Estes elementos
são sementes das futuras lembranças da “minha terra”,
que, passando pela “minha cidade” conduz o saudosista
até a doce e final lembrança do “lar onde eu morava.”
Não deve haver antagonismo entre o homem e a sua
cidade, pelo contrário, a harmonia deve ser a tônica entre
um e outro. A cidade tem a missão de oferecer ao “fruto
do seu ventre” condições de conforto, segurança e
prosperidade, humanizando-os, para que cresçam
servindo-a, preservando-a e amando-a, pois, do
contrário, havendo humilhação, indignação e revolta
consequentemente o resultado será um grande êxodo
que fará da cidade um lugar sem memória e caída no
esquecimento.
O progresso tem desfigurado a cidade. No afã de realizar
o sonho da “cidade do futuro” percebe-se a perda da
“alegria natural” da cidade. As cidades estão sendo
transformadas em “grandes centros urbanos”, em
“grandes metrópoles” ou outro monstro qualquer. Estão
deixando de ser receptivas e cordiais e, à medida que o
progresso avança, estão cada vez mais desconfiadas e
mudas. A cada dia que passa o indivíduo na sua própria
casa, a cidade, está sendo impelido por uma força
sobrenatural que o obriga a não raciocinar, ou melhor
dizendo, refreando a sua faculdade inata de refletir,
embotado que está pelo ente necessidade, ser poderoso
que está sempre ordenando que o homem se apresse,
que não pare, que não perceba o sublime e o belo, que
não viva, apenas se mova. Vida sem vida.
Atualmente a cidade oprime seus habitantes. Subjuga-os.
Trata-os como nada. Soberba por sua grandiosidade
arquitetônica despreza aqueles que pisam o seu solo,
não levando em conta que foram estes que a
presentearam com a dignidade que hoje ostenta. Não há
mais o aconchego e a reciprocidade carinhosa de quem
se ama. O que se vê são acusações mútuas pela perda
da harmonia que os faziam declarar juras de amor eterno.
Cristalina é a percepção do ciclo de uma cidade que
perdeu a capacidade de ninar e zelar pelo bem-estar de
seus filhos: o silêncio da aurora; os tentáculos pasmosos
do “rush”, minando a energia dos viajantes matinais; o
burburinho do horário comercial e os gemidos e “ais”
abafados dos macilentos que perambulam em busca de si
mesmos antecede um novo silêncio da aurora.
Cidades mecanizadas e devoradas pelo frenesi
inquietante do vai-e-vem daqueles que não discerne os
seus próprios destinos. Transfigurados combatentes de
sorrisos irônicos na batalha do ser, do ter e do poder.
Peregrinos e forasteiros.Na cidade grande cessa a
amizade e o diálogo. Escravos do “deus” dinheiro vivem
em busca de seu mestre, porém, mesmo sem encontrá-lo
o adoram.
O refúgio dos escravos da cidade monstros são os “week-
ends”, quando, isolados e escatelados em seus lares
buscam vigor, trancados atrás dos muros que os
aprisionam novamente. E dizem que são livres. Reclusos
que tentam se ver e se conhecer. Por algumas horas
deixam de ser números de algum cadastro, não fazem
parte de estatísticas e nem são “conhecidos” pelos seus
“perfis” (leia-se, cifras). Ali, na segurança de uma “prisão
domiciliar”, o indivíduo é chamado de “seu fulano.”
Entretanto, a despeito de tudo isso, é preciso amar a
cidade. Não existe o “meu lugar,” a “minha terra,” e a
“minha origem” à parte da cidade. Há uma interação
entre a cidade e o seu munícipe. Estão jungidos para que
ambos sobrevivam. O progresso de uma cidade não deve
prejudicar a amizade entre ela e seus habitantes, antes, é
necessário um amoldamento, um complemento para que
não sejam subtraídos. É fundamental não haver
infensidade entre a cidade e os indivíduos, pelo contrário,
ambos devem encontrar entre si motivos e motivações
que enraízem as suas existências. Cumplicidade é o que
os unem, capacitando-os para sobreviver aos ataques
mortíferos das “High-tec”, que os assolam, objetivando
transformá-los em uma triste realidade cinza, ou seja, ele,
o indivíduo, sem lançar mão de sua massa cinzenta, ela,
a cidade, em um cinza mórbido e insonso das “Torres”
dos “Words” e dos “Centers” sem mensagem de vida,
cansadas e sem encanto.