...HOJE O VENTO NÃO BALANÇOU MEUS CABELOS CURTOS...

Senti o vento no rosto, leve como um afago de pai ou mãe, talvez por ter passado tempo demais entre paredes e não sentir o ar tocar a pele da forma como sempre tem de ser. Houve até certo prazer ao sentir que ainda posso experimentar esse tipo de sensação e não me prender a compromissos desnecessários. O mundo irá esperar a partir de agora, meus braços agora só abraçam as pessoas, é muito mais confortável. É tudo tão diferente, não é a sensação do vento que vem de um ventilador qualquer, nem daquele vento que agride o rosto quando o carro está rápido e as janelas abertas, é um vento que parece envolver o corpo com tudo o que ele precisa, tempo. Me lembrei daquele filme em que a protagonista se apaixona pelo vento, sonhando em ir embora do lugar onde vive. Eu não quero ir embora daqui, sei que posso trazer o que anda faltando até os meus pés, só ainda não descobri como, se tudo ainda é uma questão de dinheiro acredito que vou ter de me superar em criaividade, mas não vou desistir de tentar. É esse vento que me deixa sonolento agora. Melhor experimentar dormir com o céu como teto, e a brisa como proteção. Amanhã tudo volta a normalidade chata das responsabilidades. Enquanto o amanhã não chega eu aproveito.

"...e se teu amigo vento não te procurar

é porque multidões ele foi arrastar..." ZÉ RAMALHO