ELOS FORTES, PORÉM IMPROVÁVEIS
Neste novo texto aprofundarei relações que num primeiro olhar, podem até soar como espúrias, função das gritantes diferenças, que bem caracterizam cada um dos sistemas: o laboral, o prisional e o acadêmico.
Por incrível que possa parecer, esses três sistemas compartilham fundamentos comuns como a lógica estrutural, que comporta avaliação contínua, regras e hierarquia.
Por outro lado, a mobilidade de cada sistema depende diretamente de características inerentes ao indivíduo como: classe social, cor/raça e local de origem.
Esses determinantes sociais vão desencadear ciclos de exclusão: onde baixa escolaridade → gera menos acesso ao mercado de trabalho → com mais vulnerabilidade social → e maior risco de prisão.
Depois disso tudo vem o estigma pós-prisional → com menor empregabilidade → e a perpetuação da marginalização.
Passeando pela interseção crítica associada aos três sistemas vamos constatar que: a educação serve como ponte entre o sistema prisional e o mercado de trabalho. Pois, projetos de educação em prisões buscam requalificar internos para sua posterior inserção laboral.
A baixa escolaridade pode ser encarada como fator de risco, tanto para exclusão no mercado de trabalho, quanto para um futuro encarceramento.
O mercado laboral e a academia preconizam a meritocracia, mas nem sempre partem das mesmas oportunidades de base — o que aprofunda ainda mais anteriores desigualdades.
A reintegração de ex-detentos ao trabalho depende da sua formação escolar ou técnica, criando vinculação direta com o sistema educacional.
A seguir, montei uma tabela, que visa simplificar com auxílio de parâmetros selecionados, a comparação entre características específicas de cada um dos Sistemas: Laboral, Prisional e Acadêmico.
Parâmetro Sistema Laboral Sistema Prisional Sistema Acadêmico
Finalidade Produção econômica, geração de renda Punição, reabilitação, controle social Formação intelectual, social e profissional
Entrada Contratação (com exigências de formação e perfil) Sentença judicial após processo Matrícula mediante critérios
(vestibular, ENEM, etc.)
Tempo de permanência Relativo, com foco em estabilidade ou rotatividade Definido pela sentença judicial Predeterminado por etapas (semestres, anos)
Avaliação de desempenho Metas, produtividade, comportamento Comportamento, adesão a programas educativos/laborais Notas, frequência, desempenho acadêmico
Recompensas Salário, promoções, estabilidade Remição de pena, progressão de regime, visitas, saídas Bolsas, prêmios, reconhecimento acadêmico
Sanções Advertência, suspensão, demissão Advertência, isolamento, perda de benefícios Advertência, suspensão, reprovação
Hierarquia Estrutura empresarial: chefia, cargos, supervisores Cadeia de comando prisional (diretores, agentes) Professores, coordenação, direção, reitoria
Formação/Crescimento Cursos, workshops, treinamentos internos Oficinas, cursos, escolarização (EJA, técnica) Currículo, especializações, iniciação científica
Saída Demissão, aposentadoria, mudança de emprego Cumprimento de pena, liberdade condicional Conclusão de curso, evasão ou trancamento
Estigma ou Valorização Status positivo vinculado à profissão ou cargo Estigma social, preconceito, exclusão pós-cárcere Reconhecimento social pelo diploma ou trajetória escolar
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Interessante encarar estes sistemas que operam com dinâmicas estruturadas em regras, avaliação e consequências, reproduzindo suas próprias lógicas disciplinares.
Vale lembrar, que a educação desponta como elo entre o mundo prisional e o trabalho, sendo também um dos principais instrumentos para romper ciclos de exclusão, permitindo o crescimento do indivíduo, independente da carga inerente a um passado de escassas possibilidades.
Espero assim ter conseguido comprovar que realmente estes três sistemas têm fortes elos de ligação que até pouco tempo atrás, não podia sequer imaginar.