Aos RECANTISTAS que MORRERAM: FELIZ PÁSCOA
O amor não morreu em São Paulo
Como diz o Criolo — ou seria o Emicida? Agora não me lembro bem. Às vezes acho que eles são a mesma pessoa. Um fato inconteste é que ambos parecem funcionários CLT do SESC, com direito a férias remuneradas, décimo terceiro, benefícios, horas extras e insalubridade — de ter que aguentar seus fãs ou o próprio som que produzem.
Brincadeira. Do primeiro disco do Criolo, que é o único que conheço, eu gosto de algumas canções. Mas é porque me mostraram. Não é o tipo de som que eu corro atrás. Porém, se escuto uma vez e gosto, não tenho problema em ouvir eventualmente.
Mas Criolo não é Sabotage. Nem Racionais. Tampouco é Cartola — como naquela capa do “Café” que ele tentou homenagear.
Então Emicida ou Criolo dizem: “Não precisa morrer pra ver Deus” ou “não preciso morrer pra saber o que é melhor pra você”. E concluem: “Não existe amor em SP”.
Mas existe, sim, muito amor em São Paulo. E aqui escreve inclusive um paulistano eternamente enamorado pela mesma pessoa. Da mesma forma que não é preciso morrer para ver Deus, também não é preciso morrer para, de fato, morrer. Uns morrem vivendo. Uns vivem, mas estão mortos. Uns vivem e são zumbis.
As pequenas mortes da vida
Dizem que o jogador de futebol conhece duas mortes: uma quando se aposenta, outra quando morre de verdade. E deixa dois pesares — conforme a qualidade da sua carreira e do seu legado na vida ou no futebol.
Mas alguns são fracos — jogadores e seres humanos — e não deixam saudades, nem de uma forma nem de outra.
Quem deixa um legado, constrói uma obra. Vive para sempre através dela, como nos lembra Jesus Cristo nessa Páscoa. Para além da figura divina, ele é também o símbolo revolucionário de um humano — humano — que foi colocado na cruz simplesmente porque disse que seria legal a gente ser legal uns com os outros.
“Qual o valor do amor?”, pergunta Zaratustra. “Não foi por amor que pregaram na cruz aquele que amou os homens?”
Jesus humano, demasiadamente humano
Gosto de Jesus Cristo. O humano, demasiadamente humano. O Jesus divino, sou meio cético. Jesus Cristo é do caralho. O problema é o fã-clube — que é mais chato do que o do Iron Maiden.
Quem para de escrever, e gosta de escrever, também morre. Morre para as letras, espiritualmente. Morre para si.
Onde estão?
Nessa Páscoa, por onde andam a professora de Sociologia, ou a menina com nome de seriado — “Presença de Anita” — que consegue ser mais sensual, bonita, sexy e até provocante do que a própria Mel Lisboa?
Enquanto interagíamos, elas escreviam quase diariamente. E, de súbito, abandonaram o Recanto.
Ou a própria “peoplefobia”, que escrevia um texto atrás do outro, e hoje está há quase um mês sem postar nada?
A frustração que mata
Eu não sei até onde tenho influência nisso. Na ruptura da nossa interação. No fato de, embora admirar essas pessoas, eu sempre ser sincero ao falar que amo outra. Mas não entendo como a frustração transforma o que era amor em ódio. E em vez de extrair disso força para melhorar, a pessoa se resigna — a ponto de não suportar mais ver o objeto do seu desejo. E se retira da plataforma.
Não entendo esse desejo — ou amor — que foge. Que não busca realizar-se, nem preencher a falta.
Eu fico. Eu transformo.
Eu, que sou eternamente rejeitado por quem amo e a quem sou devoto, internalizo a rejeição e a transformo em combustível para melhorar. Para não receber mais um “não”.
Procuro evoluir como pessoa. Intelectualmente, fisicamente, espiritualmente, financeiramente — em todos os sentidos. Para mostrar, ou lembrar — se não para a pessoa, pelo menos para mim mesmo — que eu sou alguém que vale a pena.
Meu luto é por quem partiu
Mas agora… agora é símbolo da reatividade e do ressentimento. Em vez de se expandir, internaliza a culpa. Para de escrever. Foge. Parte em retirada.
E é por essas pessoas que faço meu luto nesta Páscoa.
Deixo meu feliz renascimento. Que em breve possam viver de novo. E voltar a escrever — não para mim, para me agradar — mas para si mesmas.