Deve ser difícil namorar comigo. Ou não.
 

Entre o Amor e o Isolamento

Sinceramente, eu nunca tive um compromisso sério. E tampouco tive vontade — a não ser com a pessoa certa, que não vou mais mencionar, então talvez não fosse tão certa assim.

 

Embora eu me relacione com garotas que nada têm a ver comigo — aleatórias — nem por um segundo passou pela minha cabeça namorar alguma delas. Pela minha natureza pacata, assertiva e avessa a conflitos, dificilmente discuto ou entro em atrito. A não ser aqui no Recanto, mas na vida real eu fujo de qualquer forma de confronto, estrategicamente.

 

A mulher teria que fazer muito esforço para discutir comigo. Por isso, se eu namorasse — mesmo com uma mulher muito diferente de mim — eu provavelmente conseguiria conviver pacificamente, felizes para sempre, com quem é que fosse. Até uma megera como a Cleopatra ou dissimulada como a Lady Macbeth. Principalmente devido a minha capacidade de discorrer s sobre os mais diversos temas, por isso a convivência comigo é fácil e tranquila, por mais díspar que seja minha companheira. Mas a verdade é que eu não quero. Prefiro ficar sozinho.

 

Indiossincrasias do Afeto

Eu só namoraria alguém que eu amasse. E tenho várias idiossincrasias — de gosto estrito e exigente, intelectual — que me impedem de amar qualquer uma.

 

Por exemplo: eu seria incapaz de amar alguém que não soubesse escrever, que cometesse erros graves de português. Poderia até ficar, mas amar? Nunca. Não estou falando de escrever errado por rapidez em aplicativos de mensagem, mas sim por desconhecimento das regras básicas da língua. Isso me desinteressa sobejamente.

 

Claro, com parentes e amigos escrevo de qualquer jeito — justamente para não constranger meu interlocutor. Mas, em grupos, ou com quem sei que domina o idioma, procuro sempre escrever corretamente.

 

Conversas Vazias e Silêncios Significativos

Outra coisa: eu não daria certo com alguém muito banal. E aqui não me refiro à caretice, mas a um tipo de pessoa cujo único assunto é a vida alheia, que só fala de futilidades e não tem nenhuma cultura, nenhum repertório, nenhum conteúdo.

 

Não falo de fofoca, nem de vida alheia.

 

Prefiro, inclusive, ir sozinho ao cinema — para não ter que ouvir a opinião de ninguém. Já fui muitas vezes acompanhado por mulheres, mas ou o meu interesse é no filme, ou é na garota. As duas coisas não coexistem na minha cabeça, a não ser que a companhia seja realmente boa e eu esteja apaixonado. E, detalhe: sou incapaz de assistir a filmes dublados. Só legendado.

 

Estética e Essência

Também não conseguiria amar uma mulher vulgar, que não sabe se vestir adequadamente de acordo com cada situação.

 

E não faria sentido eu me relacionar com alguém que não tenha o mesmo afinco por arte, cultura, literatura, cinema e — quem sabe — filosofia, psicologia, sociologia, etc. Assuntos do conhecimento. Porque alguém assim nem saberia valorizar o que tenho a oferecer. Seria um desperdício — tanto meu quanto dela.

 

Embora os opostos se atraiam, a minha namorada também tem que ser minha melhor amiga. Tem que ser alguém interessante. Uma artista, mesmo que não praticante. Poeta, atriz, bailarina, modelo… Se não for assim, eu prefiro ficar sozinho.

 

A única exceção seria a minha alma gêmea. Aquela que me completaria. E na minha cabeça, ela atenderia a todos os critérios que eu coloco — inclusive os de beleza. Mas a minha alma gêmea não pode ser alguém que não queira estar por perto. Portanto, se um dia achei que encontrei, com certeza me enganei. 

Aliás, a pessoa certa é aquela cuja presença torna os silêncios confortáveis.

 

 

Café Preto e Compromissos Leves

E agora, com meu cuidado com o corpo e com o conteúdo, eu não poderia simplesmente sair a qualquer restaurante, tomar sorvete, comer fast food ou pipoca no cinema. Credo.

 

No máximo, um café — que invariavelmente eu pediria preto e sem açúcar. Então não há muitas opções de lugares para sair comigo.

 

Minha rotina entre treino, estudo e trabalho também não deixa muito espaço para namorar. No máximo, para uma promiscuidade controlada. Que, inclusive, anda me escapando. Mas convite para um motel ou para a casa de alguma companheira que more sozinha, eu nunca recuso

 

Porém, se eu amasse… arrumaria, sim, um horário pra ela. Diariamente. Na minha agenda — às vezes até permanente. Aliás, se a pessoa já ocupa meus pensamentos, ela estaria sempre comigo, no meu coração, e eu a levaria por onde eu andasse.

 

Nem Filantropia, Nem Carência

Portanto, fica óbvio por que nunca namorei ou tive um relacionamento sério. Não faço mais caridade. Hoje em dia, sei me valorizar. Só fico com mulheres que valem a pena.

 

Não forço nada. Não peço nada. Só aceito o que o destino me traz de bom grado — focando em mim em primeiro lugar. E assim sou feliz.

 

Engraçado que eu sempre tive bons amigos em todos os lugares por onde passei. Sou do tipo que tem melhores amigos — aqueles que estão sempre comigo, até causam inveja. Mas, do mesmo modo que sou intenso nas amizades, não sou muito habilidoso em mantê-las.

 

Minha principal amizade é comigo mesmo. E, conforme a distância vai nos afastando, eu passo para outra amizade. Outro melhor amigo do momento. Sem apego. Quem ainda tem minha amizade hoje é por insistência, hábito ou proximidade — porque nossos destinos não se separaram.

 

A única exceção foi a pessoa que eu julguei amar… mas que não quer nada comigo. Portanto, tenho que superar. Viver minha vida.

 

A Única Condição

Assim, meu critério mais valioso é esse: minha namorada tem que ser, ao mesmo tempo, minha melhor amiga.