Pais Perdidos, Filhos à Deriva

Pais Perdidos, Filhos à Deriva

Vivemos em um tempo em que muitas coisas se perderam — algumas, claro, precisavam mudar, abrir espaço para novos fôlegos. Mas, convivendo diariamente no meio educacional, percebo que a educação tem se tornado um verdadeiro campo de batalha. Pais, professores e sociedade seguem em direções opostas, cada um com suas próprias crenças e objetivos, como se estivéssemos em um jogo de “cada um por si e Deus por todos”.

Sou de uma geração que foi criada sob o conceito da boa educação. E, ao mesmo tempo em que celebro isso, sinto uma melancolia profunda ao observar as novas gerações. O que me preocupa não são apenas as crianças e os jovens, mas, sobretudo, os pais.

Parece que muitos se perderam ao tentar entender o que realmente significa educar. E você, já parou para refletir sobre isso? O que é, afinal, uma boa educação?

Não estou falando da rigidez extrema do passado, mas da construção de limites saudáveis, onde o “sim” e o “não” são compreendidos não como imposições arbitrárias, mas como ensinamentos essenciais para a vida. Ambas as palavras são advérbios de afirmação, mas, no contexto da educação, carregam significados muito mais profundos.

Outro dia, presenciei uma cena no supermercado. Um menino chorava porque queria um brinquedo, e a mãe, impaciente, tentou negociar:

— Se você se acalmar, eu compro.

A criança gritou ainda mais alto, e a mãe, vencida pelo cansaço e pelos olhares em volta, cedeu. O menino parou de chorar instantaneamente e, já sorrindo, saiu feliz empurrando seu carrinho novo.

Essa cena parece familiar? O problema não é o brinquedo em si, mas a lição que a criança aprendeu: quem chora mais alto, ganha.

E não para por aí. Professores relatam diariamente episódios de desrespeito dentro da sala de aula. Certa vez, um aluno foi repreendido por não fazer a atividade, e sua resposta foi direta:

— Meu pai disse que ninguém manda em mim.

Se os próprios pais não reforçam a importância do respeito e da disciplina, como esperar que os filhos compreendam isso?

Por outro lado, vejo mães que não compreendem seu verdadeiro papel dentro de casa, na sociedade e, principalmente, na vida de seus filhos. O amor, que deveria ser o fio condutor da educação, passa despercebido, deixando os filhos à deriva, entregues ao mundo para que este os eduque. Você já pensou nisso?

Para quem não está diretamente envolvido com a educação, essa percepção pode ser mais sutil. Mas é impossível ignorar o crescente número de crianças e adolescentes que desconhecem o respeito, a empatia e as boas maneiras. Paralelamente, temos o papel dos pais — ou, em alguns casos, a ausência desse papel.

Há pais presentes e há aqueles que simplesmente não assumem a responsabilidade que lhes cabe. Muitos transferem à mãe todo o peso da criação, acreditando que seu papel se resume a prover financeiramente, como se carinho e atenção pudessem ser substituídos por presentes e concessões. Mas educar vai muito além de dizer “sim” para evitar conflitos ou compensar a ausência. Educação verdadeira exige presença, diálogo e amor.

Os pais estão perdidos, e os filhos, por consequência, à deriva. Claro, há exceções, mas é inegável o impacto de uma educação frágil e sem direcionamento. Não se educa apenas para o hoje, mas para o futuro. E um futuro sem limites, sem valores e sem afeto pode ser assustador.

Talvez seja hora de os pais resgatarem seu papel e assumirem a responsabilidade que têm. Antes que seja tarde.

Por Lucimar Melo

Lucimar Melo
Enviado por Lucimar Melo em 28/03/2025
Código do texto: T8296039
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