O Outono das Lembranças
Crônica:
O Outono das Lembranças
Quando a luz do sol começa a se tornar mais suave e a brisa fresca traz consigo um sussurro de mudança, o outono se apresenta como um artista em seu estúdio, pronto para transformar o cenário. As folhas, em um último ato de resistência à passagem do tempo, tingem-se de laranja, amarelo e vermelho, enquanto dançam suavemente ao sabor do vento. Esta é a estação que chega como um poema escrito por mãos de um experiente poeta: uma mistura de melancolia e beleza.
Caminhar pelas ruas neste período do ano é como entrar em uma galeria de arte viva. Cada árvore é uma obra-prima, cada folha caída um capítulo de uma história contada pelos ventos. O cheiro da terra úmida e das folhas secas nos remete a um passado que parece ser nosso, como se aqueles momentos já tivessem vivido em nós. A infância surge diante dos olhos, com suas tardes ensolaradas brincando de esconde-esconde entre os montes de folhas amareladas, e o aroma do chocolate quente que mais tarde aqueceria as mãos frias nas noites que se aproximam.
Ao observar os passarinhos se organizando em bandos, parece que a natureza dá um aviso, um chamado para que também nos preparemos para o que vem. As aves se despem de suas rotinas de verão, enquanto nós, humanos, nos revestimos de roupas mais quentes, buscando o aconchego que o frio traz, não apenas ao corpo, mas também à alma.
A estação é um convite à introspecção. É quando muitos de nós paramos para refletir sobre o que semeamos no calor do verão e o que veremos florescer na primavera. O outono, em sua sabedoria, nos ensina que tudo tem seu tempo, e que a beleza pode ser encontrada também na transformação e na perda. As folhas que caem não representam um fim, mas sim um ciclo que se reinicia; são promessas de renovação que se escondem nas adormecidas sementes sob o solo.
Nas cidades, as cafeterias se tornam refúgios acolhedores, com o vapor das xícaras quentes desenhando pequenos círculos no ar fresco. É um momento propício para encontrar velhos amigos, partilhar risadas e confidências, enquanto lá fora a beleza do outono garante a trilha sonora perfeita - aquele estalar de folhas sob os pés, um murmúrio que ecoa memórias.
O outono é também a estação dos contrastes. O calor do sol persiste, mas os ventos frios já começam a reivindicar seu espaço. É como a vida: cheia de altos e baixos, de alegrias e tristezas, donos de um inevitável ciclo. Tudo deve passar, e com isso, novas portas se abrem para que novos começos possam florescer.
Assim, a cortina outonal despede-se em um espetáculo vibrante, deixando-nos a lição de que a beleza do mundo está no próprio ato de viver cada estação em sua plenitude. Seja a luz morna do outono ou a expectativa do inverno que se aproxima, é essencial aprendermos a apreciar os momentos de mudança, a respirar os ares da adaptação e a buscar a beleza nas transições de nossas próprias vidas. Afinal, sempre haverá um sopro de renovação esperando por aqueles que se permitem olhar além das folhas que caem.
EscritoraVeraSalbego