AINDA ESTOU AQUI
ASSASSINADOS PELA DITADURA
Nelson Marzullo Tangerini
O sofrimento de Rubens Paiva e de outras pessoas que foram presas, torturadas e assassinadas pela ditadura militar parece não ter significado algum para certas pessoas. E muitas se dizem cristãs.
Sob uma postagem a respeito do filme “Ainda estou aqui”, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, vi, no Face, uma charge de uma fila diante de um cinema em que se lia, no letreiro, a frase “Fila de ossos” – alusão a uma frase vomitada pelo ex presidente.
Em outras postagens li: “Rubens Paiva teve o que mereceu” (frase dita pelo capitão, quando cuspiu na estátua em homenagem ao ex deputado, na ALERJ) e “Ainda estou aqui... esperando a picanha”. Havia outras frases baixas e ridículas, endereçadas à Fernanda, à Fernandinha, a Selton Mello e Walter Salles. O Face virou, enfim, uma terra de ninguém.
Um dia desses, veio parar no meu zap um texto – mal escrito e sem embasamento algum – em que Rubens Paiva era tratado como guerrilheiro, assassino, desocupado e comunista. O texto tinha o nome do autor, que merecia ser processado pela Família Paiva. Não dou nome ao boi para não fazer propaganda desse imbecil.
Cassado pelo golpe militar, em 1964, Rubens Paiva foi deputado pelo PTB; era engenheiro civil, não era comunista e não matou ninguém. Era, como muitos brasileiros, um opositor da ditadura militar.
Para o cidadão que me enviou esta fakenew, enviei um texto da revista Exame, sobre Rubens Paiva.
Fiquei impressionado com a reação do sujeito, que, ainda assim, duvidou do texto dessa conceituada revista.
Como se vê, parece que as fakenews da extrema direita vieram para ficar. Quando se tenta conter essa avalanche de mentiras, de notícias falsas, o gado vem com a conserva fiada de que não existe liberdade de imprensa no Brasil, de que vivemos numa ditadura.
Sendo assim, falta muito pouco para transformarem o jornalista Wladmir Herzog, também preso, torturado e assassinado pela ditadura, em guerrilheiro, desocupado e assassino.
Durante os 4 anos de governo do capitão, cujo ídolo era um torturador, Ustra, a imprensa foi duramente atacada, desmoralizada, desqualificada, tratada como de esquerda ou ptista. Tudo isso, em detrimento das fakenews lançadas pelo “Gabinete do ódio”.
A extrema direita não lê jornal, não lê revista, não assiste aos telejornais. Têm medo de mudar de opinião. Fogem da verdade. Acreditam santamente nas fakenews. Desinformado, esse exército de frustrados adere facilmente ao nazifascismo e ao fundamentalismo cristão dos mala feias da vida.
A Educação é ainda o caminho para construirmos uma sociedade mais justa, mais igualitária.
Se não acreditarmos na Educação, vamos nos defrontar a todo instante com essas cavalgaduras que defendem a volta da ditadura, do AI 5, do autoritarismo, portanto, em nome da pátria, da religião e da família.
Ainda estamos aqui. Ditadura nunca mais!