Pós guerra.

Ainda tem sangue e dor,

Mesmo com o silêncio nos frontes,

Ainda cai fogo do céu.

Muitos feridos correndo em busca de estancar o sangue,

Numa distância inalcançável até que seja possível.

Não é mais necessário curar no pós-guerra,

Já se perderam os motivos pra ficar sanado.

As vidas já foram tiradas,

Sem piedade nem trégua.

Tudo agora é apenas o pós,

Tudo agora fica dentro do questionamento sobre o quanto valeu tudo isso.

Sobre o que tem nas mãos que tinham tanta pressa em apertar o gatilho.

Agora é tudo calmaria que precede uma grande tormenta,

Não cabe mais estratégias e incursões programadas.

Só um lamento das almas inquietas,

Que percebem o terror de uma permanência sem luz.

O que levar nas mãos até o encontro final?

Como chegar na presença inevitável do fim,

Sem as marcas de dores e caos plantados sem receio.

Tudo fica escuro no profundo breu,

Nada de palco ou luzes pra instigar a vaidade viciante de outrora.

Há que se contentar com a sentença provisória,

Até que se defina o que já fora escrito.

Uma infinidade de dias e noites sob o peso de todas lágrimas aqui deixadas,

Um profundo silenciar das vozes e aclamações.

Este é o limite do pós,

De onde nada pode ser ouvido nem avistado.

Apenas uma dor que se repete sob o olhar piedoso que nada pode,

Fora do foco ilusório que lhes trouxeram pra cá.

Alma, carne e sangue sem nenhuma pretensão de redenção.

Se debatem num desespero solitário,

Ninguém pra ver e ouvir.

Essas são as mãos pesadas do pós,

Tirando de volta cada gota de sangue e lágrimas de um legado sombrio.

E quando se ouvir o soar de trombetas,

Num chamado sem armas nem homens.

Vão se por de pé todas as almas, num súbito delírio de consciência tardia,

Sem qualquer honra nem mérito.

Enfileirados e totalmente convencidos de que lutaram uma batalha fictícia,

Alimentada por uma ideia de justiça que só eles acreditam.

Isso é atormentador agora,

Enquanto esperam por suas sentenças,

As memórias latejam em suas mentes.

Cada uma delas vividas segundos antes de estarem ali,

É possível sentir o calor nas mãos e toda adrenalina correndo nas veias.

Enquanto apertavam corajosamente os gatilhos,

Convencidos e totalmente seguros de fazerem a coisa certa.

Este é o fim da linha,

Nada pode tirar a culpa nem os motivos.

Agora é suportar cada rajada que virá,

Sem perder o brilho e todo aquele orgulho que fez valer cada segundo dessa guerra sem vencedores.

Esse é o pós sem nenhuma distinção de lados,

Apenas uma redoma de espelhos refletindo civis e militares com armas,flores e corações nas mãos.