Recanto das Letras: Comentários Spam Nocivos

No icônico episódio “Spam” do Monty Python’s Flying Circus, exibido em 15 de dezembro de 1970, a palavra “Spam” é repetida pelo menos 132 vezes. Nesse contexto humorístico, um restaurante serve apenas um prato: uma lata de feijão da marca Spam, e o garçom insiste em repetir a palavra até exaustão. O impacto cultural foi tão grande que a palavra passou a ser usada como sinônimo de mensagens indesejadas, especialmente na era dos e-mails, geralmente com anúncios ou propagandas. Hoje, ironicamente, essas mensagens indesejadas vão direto para o filtro de bloqueio anti-spam.

 

Os spams são mensagens que visam atingir o público mais pela repetição e cansaço do que pelo conteúdo, tentando chamar atenção para algum objetivo: vender um produto, um serviço ou, no caso do Recanto das Letras, atrair leitores para uma escrivaninha que, muitas vezes, tem um conteúdo tão raso quanto o próprio comentário deixado.

 

Esses comentários spam são sempre do mesmo tipo: “Parabéns pela poesia”, “Belo trabalho”, “Que talento!”. São mensagens lacônicas que nem demonstram que o texto foi lido até o fim – ou sequer lido. A intenção é clara: poluir nossos textos com elogios vazios enquanto tentam chamar atenção para si. Não vou citar nomes, mas vou chamar essa prática de Efeito Jun. Refiro-me a uma comentarista que transforma todo mundo em “anjos de luz”. Sim, para ela, até mesmo se Hitler tivesse uma página no Recanto, ele seria designado como “anjo de luz” sem pestanejar. Seria bondade extrema? Um coração puro, iluminado, um ser evoluído, a sua último fase de reencarnação na terra ou simplesmente estratégia de quem quer aparecer?

 

Não sejamos hipócritas: é bom receber comentários. Todo escritor escreve para si, mas também com o desejo de ser lido e reconhecido. Contudo, particularmente, dispenso esses comentários genéricos e automáticos. Eu até os apagaria, caso isso não fosse contra minha ideologia de interação. Permito tudo, desde que não constitua crime ou desça demasiadamente o nível. Para mim, o número de leituras e a repercussão do texto importam mais do que comentários vazios. Afinal, sei que há pessoas que não comentam por diversas razões: inveja, recalque ou até por não terem o que dizer sobre um texto que, por si só, já dispensa comentários.

 

Elogios como “Parabéns!” só têm valor para mim se vierem acompanhados de uma análise do conteúdo. Sinceramente, foi eu quem escrevi o texto. Eu sei que ficou bom pra cacete; caso contrário, não o teria publicado. A não ser, claro, que o elogio venha de alguém cuja opinião eu admiro – aí é diferente. E, se o comentário for uma crítica, melhor ainda.

 

Todos se lembram do meu algoz, a quem agora me refiro carinhosamente como alemão da Shopee. Eu prefiro os ataques gratuitos, levianos e senis dele, que, pelo menos, têm certa originalidade, do que os comentários spam elogiosos, que não dizem nada além de querer chamar atenção para o próprio autor do comentário.

 

Essas pessoas querem aparecer pela quantidade, não pela qualidade. Mas existem tantas formas melhores de elogiar, de chamar atenção! Um elogio pode ser distinto, singular. Pode analisar o texto, enaltecer uma particularidade do autor ou até mesmo de sua aparência, provocando curiosidade sobre quem escreveu aquele comentário tão espirituoso. Mas, muitas vezes, falta engenho ou criatividade para ir além de um “Parabéns pelo texto”. E o pior: algumas dessas pessoas copiam e colam o mesmo comentário em várias escrivaninhas, como um pássaro que distribui pólen de flor em flor. Só que, nesse caso, o que espalham não é vida, mas mesquinhez e veneno, que não geram nada além de cansaço e desinteresse.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 28/01/2025
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