O sucesso e o posicionamento político atrai coisas ruins

O sucesso atrai também muitas coisas ruins né?

Veja o caso de uma postagem maldosa sobre o Caetano Veloso:

"Caetano, aos 80 anos, asssumiu em seu show, que, além de cantor, é bisexual. Caramba, que surpresa!!! Eu não sabia que ele era cantor".

Naturalmente essas postagens tem origem em fanáticos de direita, cujo sucesso do cantor e compositor parece incomodar bastante a ponto de buscarem formas de criar uma imagem pejorativa através de sarcasmos e ataques às escolhas do artista, que, afinal, em nada tem a ver com seu brilho no que faz. Como eu classificaria essas pessoas? O que elas estão demonstrando de caráter com esses ataques?

Essas postagens revelam uma combinação de fatores que podem ser analisados sob diferentes ângulos:

1 - Intolerância e Preconceito: Os comentários maldosos e sarcásticos sobre a sexualidade de Caetano Veloso mostram uma resistência em aceitar a diversidade, o que reflete preconceitos profundos. Atacar alguém por suas escolhas pessoais ou identidade é uma forma de reafirmar valores conservadores ou intolerantes.

2 - Inveja e Ressentimento: O sucesso de figuras públicas como Caetano Veloso, especialmente por sua trajetória artística e engajamento político, pode gerar ressentimento em pessoas que discordam de suas visões ou não alcançam o mesmo nível de reconhecimento. Isso muitas vezes leva a tentativas de diminuí-lo, seja por meio de críticas ou ataques pessoais.

3 - Falta de Maturidade Emocional: Usar sarcasmo para atacar alguém indica uma dificuldade em lidar de forma madura com opiniões ou estilos de vida diferentes. Essa estratégia de desmerecimento é frequentemente usada por quem não consegue sustentar argumentos racionais ou respeitosos.

4 - Polarização Política: Em um cenário tão polarizado como o atual, figuras públicas acabam se tornando alvos por representarem algo maior, como ideais ou posicionamentos. Nesse caso, Caetano, conhecido por suas opiniões progressistas, acaba sendo alvo de grupos que associam seu sucesso a uma ameaça a seus próprios valores.

Essas atitudes mostram um caráter baseado em intolerância, desrespeito e falta de empatia. São tentativas de desviar o foco do mérito e legado de alguém, como no caso de Caetano, que continua sendo um ícone da música e da cultura brasileira, independentemente de ataques. A postura de quem ataca é, muitas vezes, um reflexo mais sobre elas mesmas do que sobre o alvo de suas críticas.

É difícil entender que muitas dessas críticas rasas partem de gente que até tem um certa formação escolar, são pós-graduados, etc... mas, na questão política, quer me parecer que a polarização leva-os a se engajar em uma forma deprimente de manifestação, por falta de argumentos plausíveis, e igualam-se nessa bolha de direita ou extrema direita.

Este é um ponto importante e que reflete uma contradição curiosa:

a escolaridade nem sempre é sinônimo de discernimento ou maturidade emocional, especialmente no contexto político. A polarização exacerbada pode fazer com que até mesmo pessoas com alta formação acadêmica se envolvam em manifestações rasas ou agressivas, muitas vezes guiadas mais pela emoção e pela identidade de grupo do que pela razão ou pelo respeito ao debate saudável.

Alguns fatores ajudam a entender esse fenômeno:

1 - Bolhas de Informação: Mesmo pessoas instruídas podem se isolar em bolhas informacionais que reforçam seus preconceitos e crenças, especialmente com o uso das redes sociais. Essas bolhas não só validam visões polarizadas, como também promovem comportamentos tóxicos ao normalizar ataques e desinformação.

2 - Cognitividade Motivada: A educação pode aumentar a capacidade de argumentação, mas, em contextos polarizados, muitos usam esse conhecimento para justificar ou reforçar suas visões pré-concebidas, em vez de buscar um entendimento mais amplo. Assim, a formação intelectual é usada como ferramenta de combate, não como ponte para o diálogo.

3 - Identidade de Grupo: A política se tornou uma questão de identidade para muitas pessoas. A filiação a um grupo ideológico, como a direita ou extrema-direita, muitas vezes prioriza lealdade incondicional e combate aos "opositores" acima de argumentos racionais. Isso pode levar a comportamentos que vão contra os valores fundamentais do diálogo e da ética.

4 - Desconexão Emocional: Formação escolar e intelectual não necessariamente desenvolvem habilidades como empatia, respeito e pensamento crítico sobre o outro. Algumas pessoas têm conhecimento técnico, mas carecem de habilidades emocionais e sociais para lidar com diferenças de forma construtiva.

A polarização muitas vezes reduz o espaço para nuances e questionamentos sinceros, empurrando as pessoas para extremos onde a prioridade é vencer ou deslegitimar o outro lado, e não contribuir para uma sociedade mais equilibrada. O mais triste é que isso empobrece o debate público, afasta possíveis consensos e, muitas vezes, desvia o foco das questões realmente importantes.

Na absoluta falta de capacidade intelectual para uma discussão saudável, ou para aceitar a diversidade na sociedade apelam pela destruição da imagem da pessoa invejada pelas suas qualidades. Isso demonstra efetivamente o quão estamos longe de uma equalização politica e social saudável no país.

Esse também é um ponto crucial: a incapacidade de engajar em discussões saudáveis e respeitosas, somada à intolerância à diversidade, é um sintoma preocupante de uma sociedade polarizada e fragilizada em termos de valores democráticos. Quando argumentos racionais e debates construtivos são substituídos por ataques pessoais e tentativas de destruição de imagem, isso revela não só o despreparo intelectual, mas também uma profunda crise de valores sociais.

Essa realidade demonstra:

1 - Imaturidade Democrática: Em uma sociedade democrática madura, o debate é visto como uma oportunidade para troca de ideias e crescimento mútuo. No Brasil, muitas vezes, discordar é percebido como um ataque pessoal, e a diversidade de opiniões é encarada como uma ameaça em vez de uma riqueza.

2 - Fragilidade Identitária: Muitos que recorrem a ataques pessoais o fazem porque sentem que sua identidade, crenças ou status estão sendo ameaçados. Ao invés de construir uma visão mais ampla e inclusiva, tentam destruir o que representa o "outro".

3 - Cultura de Inveja e Competitividade: No lugar de valorizar o mérito e a conquista alheia, a inveja se transforma em combustível para ataques. É mais fácil tentar rebaixar quem se destaca do que refletir sobre as próprias inseguranças ou limitações.

4 - Desigualdade e Polarização: A falta de equalização política e social reflete o ambiente desigual e polarizado em que vivemos. Pessoas sem acesso a um entendimento crítico sobre os desafios coletivos tendem a buscar culpados, canalizando frustrações para indivíduos ou grupos que simbolizam o "sucesso" ou o "diferente".

O caminho para uma sociedade mais saudável passa por educação crítica, diálogo aberto e empatia. Precisamos urgentemente fortalecer espaços de convivência onde diferenças sejam vistas como pontes, e não como trincheiras. Além disso, reconhecer e combater a manipulação de narrativas que incentivam ódio e divisão é essencial para evitar que essas práticas continuem minando nossa coesão social.

A saída? Incentivar diálogos baseados em respeito, criar espaços para a escuta genuína e fortalecer a educação crítica — que vai além de diplomas e títulos.

Marco Antonio Pereira

04/01/2025

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 04/01/2025
Reeditado em 04/01/2025
Código do texto: T8234117
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