O aprendizado do dia comum
Em uma caminhada matutina de dia qualquer, Helena nem se deu conta da senhora que estava sentada comendo vagarosamente um salgado às 6:35h. O lanche era orgulhosamente dividido com o seu cachorro sujo.
Numa das mãos de Helena, um celular, na outra, a chave do carro. Na cabeça ansiedades, medos, problemas, dúvidas...
Nas mãos da senhora suja e mal vestida uma coxinha. Em seu rosto, embora já marcado pelas fortes linhas do tempo demonstrando seus aparentes 70 e poucos anos, reinava um semblante de agradecimento. A generosidade em estar dividindo seu tímido lanche com seu melhor e talvez único amigo fez com que um brilho à mais tomasse conta de sua face em meio à toda aquela pobreza.
Aquela senhora não se preocupava com os pés e mãos sujos, nem com a sua pele enrugada ou com sua roupa gasta pelo tempo. Sua única preocupação, naquele momento, era se estava dividindo o lanche da forma correta sem prejudicar seu amigo e sem levar desvantagem. Ela comia sossegadamente seu alimento e observava tudo e todos à sua volta. Assim, logo notou Helena.
A cena, digna de piedade, se transformou rapidamente quando a senhora abriu um sorriso largo de bom dia em direção à moça das chaves e do celular nas mãos. Sem entender ao certo o porquê da felicidade da senhora, Helena retribuiu o bom dia com um belo sorriso, sentindo-se meio atrapalhada e sem educação por não ter ela mesma cumprimentado a senhora.
De repente um sentimento de leveza dissipou aquela ansiedade e tristeza que Helena sentia. A senhora, que começou a caminhar lentamente com seu cão, foi embora, como o tempo, deixando para trás aquele tipo de ensinamento que só consegue passar quem já viveu muito por essa vida.