“CRÔNICA HIPPYE 04”
Perguntem ao rimador caipira, pergunte a mim:
“EU TROVADOR”.
O que define um HIPPIE caipira Trovador?
Respondo: - cabeça, cheia mente vazia.
Poderia explicar isto Trovador? - Posso tentar.
Geralmente a cabeça de um livre pensador está cheia de drogas, e a mente está vazia de pensamentos ou vontade própria.
No passado poucos se arriscavam a usar drogas pesadas, mesmo porque o acesso a elas era difícil e caro e só os artistas que alcançavam o sucesso e tinha dinheiro fácil podiam se dar ao luxo de gastar com os LSD importados e as trupes refinadas.
Os primeiros adeptos no Brasil geralmente abraçavam a ideia de rebeldia contra o sistema e o arcaísmo da família, pensando em liberdade de escolha ou livre arbítrio para decidir o que queria fazer da sua vida. Nisto se davam mal e muitos acabavam assumindo a marginalidade e deixavam a pureza do gesto levantando a mão e abrindo os dois dedos a exemplo de Cristo que fez o gesto pra indicar vitória, mas como ele pregava a paz e o amor o gesto para o livre passou a representar a frase linda e maravilhosa de: “paz e amor”.
Estes marginalizados acordaram as autoridades do país para o perigo das drogas que passou a combatê-las com rigor, mas sem equipamentos e conhecimento do assunto, não destinaram recursos à causa e rapidamente o que poderia ser controlado virou o pesadelo que vivemos hoje.
Não vivi tais desatinos, posso dizer que fiquei no “experimentei”, mas vi e senti nos amigos os efeitos de algumas misturas de quem conhecia do assunto e nascera como pau torto.
Os chás de cogumelos existiam sim, não levavam ao delírio, quase que apenas aniquilavam a vontade e reação do corpo, mas se misturado a outros componentes endoidava dependendo do estado de espírito de quem usava, se a cabeça estava voltada para o mal, então ele ia praticar o mal se não fosse contido por amigos ou “irmãos”.
No grupo se tomou a decisão de que só poderia participar de roda quem estivesse com os pensamentos comungados no mesmo ideal... Se é que se pode chamar de ideal ficar sonhando com passarinhos e flores, sexo e preguiça.
Existe uma planta caseira, “não vou citar o nome” que se misturada à cannabis sativa era pior do que os efeitos que pesquisei sobre o krak, este tem efeito rápido, mata rápido e tem curta duração exigindo mais consumo do viciado.
A mistura do passado era duradoura e venenosa para os pulmões se a mistura fosse muita rica o indivíduo poderia morrer numa única vez que usasse. Mas bem dosada ela proporcionava um estado de demência tal que o usuário passava por muitos estados ilusórios desde rir às bandeiras despregadas, como chorar com desespero ou sonhar os mais absurdos sonhos ou ainda passar por pesadelos assustadores dependendo da sua capacidade de guiar seus pensamentos nos intervalos entre uma e outra fumaça tragada.
Dois irmãos que morreram não tiveram suas mortes associadas à overdose palavra quase desconhecida ainda no Brasil e registraram o diagnóstico como "causa mórtis, envenenamento por injestão de mandioca brava", a cannabis sativa era fácil encontrar, motoristas de transporte às cultivavam em casa e dava a quem pedisse, até quando começou a repressão. Hyppies podiam sustentar os vicios quase de graça.
Esta é apenas uma crônica para iniciar minha saga respondendo ao desafio de Sonia de Fátima para eu contar sobre meu tempo de bicho grilo.