EU TERAPIANDO

Eu terapiando

Começo esse assunto com a ficha caída, estou velho e isso de repente se tornou uma dádiva sabendo que sobrevivi a todo tipo de crise dos meus tempos: inflação galopante, corruptos, mulheres falsas, falsas paixões e uma corrente de pingentes anacrônicos com os tempos atuais.

Nenhuma cabeça com um cérebro devidamente encaixado suporta tanta história sem ter um lapso em curto circuito aí então, uma terapia vem reconstruir um quebra cabeça ou uma cabeça quebrada.

Décadas de sequencialismos de Fernando e Isabel parturientes de uma América pobre e estúpida donde os joelhos dobrados se repetem até os dias de Bill Gates.

Mas por que encho a paciência de vocês com essas medonhas e enfadonhas histórias? Não posso excluir da vida de todos nós esses dilemas, são como água de batismo, beijo de mãe, sabedoria de um monge ou mingau de aveia.

De repente me encontro diante de um terapeuta atual me dando rumos mais aplumados, diferente da psicanalista de outrora que fez do divã nossa cama. Eles certamente foram à Marte redescobrir nossas dores, alucinações, desenganos e a estupidez que geramos ao abrir os olhos.

Estou terapiando, fazendo terapia e certamente me pergunto se realmente havia tal necessidade e então, respondo: sim! Porque no mundo atual me distanciei dos corajosos poetas que me avisaram:

“Quem sabe um dia a morte ou pior ainda um psiquiatra” - Vinicius de Morais ou então um poeta francês: Charles Badeulaire

Embriagai-vos!

Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. embriagai-vos . A poesia já está em seu devido lugar no porão e acompanhada da virtude, porém o vinho subsiste em elegantes degustações.

Haja fígado, haja bolso!

Sinceramente a terapia me conduz a uma insistência em viver, de forma plena e com um toque requintado de ilusão. Sigamos! Os jornais não proclamarão sua morte e nem queira isso, mantenha em segredo sua finitude, coisa pequena não vale a dor.

Infalivelmente todos os dias nos enfiamos em situações desnecessárias seja discutindo cor da pata de um leão ou um jogador que foi dispensado ou contratado no seu time ou no meu, a separação de uma celebridade, o efeito da cafeína no leite de manhã, do programa de tv que nem mesmo assistimos ou se a mula sem cabeça foi decepada ou ela perdeu a cabeça por causa de um jumento traiçoeiro. Ainda temos de aguentar os ditos influenciadores com suas receitas de beleza, riqueza, alimento saudável, malhação, sono perfeito, remédios pra tudo, jogos de loteria enfim, assunto pra todos os gostos ou desgostos.

O acumulo de tantas informações e de falsas expectativas que criamos a todo tempo em torno de muito nada como fosse este fosse tudo; daí esse mortal que escreve essa sua crônica ser mais um a enveredar pela terapia atual se curvou aos ensinamentos dos pacientes doutores em mentes desgastadas e fundindo feito um velho motor dessa máquina conhecida corpo humano tenho de dar a mão à palmatória, os caras são bons! Não sei como suportam tanta gente mais perdida que um caipira em Tókio sem saber falar uma palavra em japonês.

Alguém disse: “Só sei que nada sei”, complemento dizendo que agora não sei o quero mas certamente sei o que não quero e finalizando já não era sem tempo.