Cinquenta Anos de Formatura
Julio Arthur Marques Nepomuceno (*)
Foi no início de 1973 que eu cheguei aqui em Amparo. Sem eira nem beira, com uma mão na frente e outra atrás. Sem a opulência de outrora, quando eu era o “amigo rico” que emprestava dinheiro para nunca mais receber. E não me fazia falta.
Agora, os tempos eram difíceis, minha família tinha perdido tudo, e de repente cheguei aqui sem conhecer ninguém. E fui logo advertido por uma senhorinha: “Amparo é uma cidade fechada, não recebe bem pessoas de fora...” Em pouco tempo, eu vi que essa senhorinha estava enganada.
Procurei uma escola onde continuar os estudos, era começo de março, e já não havia vagas. Alguém me indicou a Escola Técnica de Comércio de Amparo, onde finalmente consegui a almejada matrícula.
E logo fui recebido por aquela turma que mora no meu coração. Somente para citar alguns nomes: Ivan, Enéas, Fernando, Cereser, Lígia, Graça, Andretta, Sônia, Cristina, Edmur, Paulo, Pitarello, Sarah... e tantos outros, alguns lembrados com saudades, pois já partiram desta vida. Outros, ausentes pelos mais diferentes motivos.
Ontem, essa turma maravilhosa, que me acolheu aqui em Amparo e foi o meu esteio na cidade que eu havia adotado, se reuniu para comemorar 50 anos de formatura, na Forno Vecchio... uma oportunidade da gente se lembrar da pizza do Hélio Scalvi, da cantina da escola...
Para mim, foi um momento mais do que emocionante. Foi simbólico, pois ali estava voltando às minhas raízes aqui em Amparo, às primícias daqueles que me receberam.
Não faltaram histórias. Afinal, os cabelos agora estão mais ralos ou brancos, as barrigas mais proeminentes, e uma história de vida para contar. Pessoas que venceram as dificuldades, que formaram famílias, que criaram filhos, e que têm a oportunidade de completar 50 anos de formatura. Não é pouca coisa. Tenho certeza de que a vida de cada pessoa ali daria um livro. Quiçá um romance russo.
No final, tomamos uma decisão. Não vamos esperar mais 50 anos para a próxima comemoração. Vamos nos reunir anualmente para um mata-saudade. Como um colega disse, nessa fase da vida é melhor não postergar as coisas. Melhor mesmo é viver os bons momentos, como vivemos ontem.
Quando vim embora com minha esposa – tive que sair mais cedo por causa das minhas limitações pós-cirúrgicas, eu estava feliz, ela também por ter conhecido meus colegas e suas famílias. Mas, confesso, também estava emocionado, muito emocionado. Não é sempre que a gente encontra no caminho pessoas maravilhosas que nos dão suas mãos e nos conduzem no início de uma nova caminhada.
Obrigado, meus amigos. Amo vocês.
Amparo, 6ª feira, 29.11.2024
(*) Julio Arthur Marques Nepomuceno sou eu