O GRANDE PALCO DOS SONHOS

Gosto dos supermercados, especialmente os grandões onde tem e encontro de tudo. Quando entro num é como se eu penetrasse num ambiente mágico espetacular onde todas as minhas fantasias gastronômicas serão concretizadas. Tranquilo, passeio por cada prateleira, deito os olhos ávidos pelas gôndolas fartas, caminho sereno por entre os produtos exibidos na área dos saudáveis, deleito-me ante as variedades de frutas, legumes e verduras, onde dispendo horas escolhendo ou apenas comendo com os olhos, e vagueio descontraído em meio à multiplicidade de peixes, aves e carnes. Descarto por venenosos para a saúde os enlatados, embutidos e processados.

Consumismo nunca foi o meu forte, adquiro unicamente o necessário para a semana. Mas embora a eles comparecendo com esse intuito, adentro o ambiente tendo no semblante a ânsia dos que compram além das próprias necessidades. Esse meu encanto por supermercado, quero crer, decerto tem origem nos tempos da penúria enfrentada na infância, época em que não os havia na cidade onde nasci. Nesse período, só conhecia as vendinhas da esquina e as bodegas de parco estoque, a fartura morava em algum lugar longínquo e inacessível aos meus anseios. Era tudo pouco e contado.

Ao receber de meu Senhor e Salvador Jesus Cristo a grande benção da aprovação em concurso de âmbito nacional, estudioso e sonhador que sempre fui, e cujo intento acalentado era galgar patamares mais altos na vida, finalmente surgiu a oportunidade de participar das benesses proporcionadas por um ótimo emprego com salário digno.

As diversas portas, inclusive dos hipermercados, outrora fechadas para mim se abriram de par em par ao meu deslumbre. Agora sim, com a santa graça de Deus eu me via na condição de saciar a fome tantos anos sentida das coisas que a infância humilde não me dava condições de possuir. O supermercado era a fonte principal delas pois oferecia tudo que antes não tive e sonhava ter. Fazer a feira neles me conforta, é a realização dos devaneios da meninice.