BLACK FRIDAY, NÃO! LIGHT FREUD, SIM!
Mês de novembro a qu'está se findando!
E eis que chega finalmente o tão esperado "Black Friday"!
Alvoroço total na cidade, d'aquela imensa massa humana
a ser tragada pelo alucinado e neurótico desejo de consumo
Uma verdadeira loucura!
Ou, como diz em Minas: "Um trem de doido, sô!"
Afinal, era o momento de "aproveitar", ao que estava em oferta
Ou seja: tudo
Ou, pelo menos, quase tudo:
Eletrodomésticos, roupas, calçados, perfumes, produtos de beleza,
viagens de avião, serviços de Internet, telefonia móvel ...
Enfim, o comércio inteiro em promoção, incluindo planos de saúde
e até planos funerários, com sepulcros e jazigos a preços de banana,
e com com caixões a valores módicos (em conta) para todo mundo
(afinal, os mortos também não poderiam ficar "fora desta")
Isto sem mencionar – ao qu'eu não estou exagerando –
as incríveis ofertas nos motéis e boates de luxo em minha cidade
É verdade, não estou brincando!
Tudo em pechincha!
Até mesmo ... a nossa dignidade!
Ao que varinha mágica chamada "dinheiro" compra tudo (e todos)
Ah! E o que o dinheiro não compra?
Isso mesmo: inclusive (ou principalmente) pessoas!
E assim, eis a febre da cobiça,
como se todo mundo estivesse n'uma espécie de convulsão social
Mas, e então!
Seria por necessidade ou tão somente compulsão?
Ou mesmo do estilo "maria vai com as outras"?
Ai! Vento a que no tempo vem qual feroz corrente,
a trazer a sutil poeira em seu curso
A cegar nossa vista, ou, que melhor se diria, ... nossa mente
E quem nest'hora ouvirá, pois a voz de sua singular lucidez?
Do que as coletivas almas não veem,
ao qu'entregues estão à voz da multidão que não pensa,
que não fala, mas só obedece à ordem de quem submissa s'é:
O deus Mamon
E, deste modo, não tem por si "opinião pessoal"
A seguirem a sugestão da frenética zoada
BLACK FRIDAY!
Ah! Ao meu entender ... só para bobos!
Prefiro mais ... um "LIGHT FREUD"
Oh! Enferma sociedade!
Tão escrava do prazer pelo consumo
E da sede da satisfação que nunca se chega
Mas, contentamento com as mãos vazias?
Ah! Sem sentido!
Fala sério!
Afinal, como dizia Freud em função de tal imensa neurose:
"Eu preciso ter sempre um objeto para amar"
Ao que só faltava ter como slogan no comércio daquele momento
e assim completá-lo: "E este objeto o "Black Friday" me dá!"
E, destarte, eis ela:
A humana manada urbana (tão carente!)
Ao que basta estar triste, ... melancólico, ... ou deprimido
e, portanto, vai-se n'uma loja a comprar desvairadamente
o que tanto agora precisa
(Mas, será que "precisa" mesmo?)
Porém, falando em tom de ironia:
"Aquilo não pode faltar jamais em sua vida”!
Inadmissível (oh!, de form'alguma)!
Ai! Quanto alívio!
Depois de tanta excitação pelo o que se desejava ...
E, no fim das contas, nossa vida não se move mesmo pelo desejo?
E, naquel'hora, depois d'um ano tão longo e penoso chega o "alívio"!
E assim, eis finalmente em mãos (de todos) "aquela tão amada droga"
(em tal grau idolatrada) a nos proporcionar "a felicidade"
A nos fazer sentir incrivelmente bem, ou mesmo eufóricos:
A ter sido proporcionado por aquela "surreal morfina" (ou "cocaína")
A que tanto nos afaga e alucina!
Pelo menos até o momento em que se desperta de um enganoso torpor
E ver [cada qual] que foi somente um bobo
no meio d'outros bobos que também procuravam por suas drogas!
É como novamente Freud diria:
A satisfação em nome... do "princípio do prazer"!
No "inconsciente coletivo" a se imperar na multidão ... (que não pensa!)
Bom, vou ficando por aqui
Vou aproveitar o "Black Friday", e ir numa livraria daqui da cidade
Preciso "urgentemente" comprar a coleção "OBRAS COMPLETAS",
de Sigmund Freud, a qual está em promoção
Não posso perder essa ...!
25 de novembro de 2024
IMAGENS: INTERNET