Uma cidade livre de dogmas

Era uma vez uma cidade livre de dogmas

Logo cedo um bêbado na sarjeta importunava as mulheres que passavam e caçoava dos que se dirigiam ao trabalho.

Cheirava a suor, álcool e cigarro.

Quando repreendido por um jovem, afirmou:

"Fique tranquilo, menino, por que me repreende?

A vida é contradição..."

E estava, portanto, filosoficamente justificado seu comportamento. Afinal, a vida é contradição...

Outro caso interessante foi um ladrão que, após ser pego assaltando um operário que voltava do trabalho, conseguiu se livrar de um linchamento público argumentando que:

"Ora, a teoria é cinza e verde é a árvore da vida!"

E a população, forçosamente, não teve como discordar. O ladrão ficou impune. O operário não se feriu gravemente e simplesmente foi embora.

"Um ótimo trato das divergências. Obrigado pela compreensão, pessoal!", agradeceu ao público, o ladrão. Reclamou apenas da truculência do operário, que saiu indignado.

E assim seguia aquela cidade, finalmente liberada de imposições e onde não havia espaço aos dogmas. Tudo desabroxava livremente.

Os habitantes, satisfeitos, podiam combinar vontade e, vez em quando, necessidade. Estava perfeito.

Anos depois, o mesmo ladrão viajou pra uma cidade vizinha, a fim de levar até lá seu estilo e suas contribuições

Uma pena, porque o desavisado não sabia que lá reinavam os dogmas e, quando necessária, a truculência.

Triste fim...

Maxuel Chaves
Enviado por Maxuel Chaves em 22/11/2024
Reeditado em 22/11/2024
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