Uma cidade livre de dogmas
Era uma vez uma cidade livre de dogmas
Logo cedo um bêbado na sarjeta importunava as mulheres que passavam e caçoava dos que se dirigiam ao trabalho.
Cheirava a suor, álcool e cigarro.
Quando repreendido por um jovem, afirmou:
"Fique tranquilo, menino, por que me repreende?
A vida é contradição..."
E estava, portanto, filosoficamente justificado seu comportamento. Afinal, a vida é contradição...
Outro caso interessante foi um ladrão que, após ser pego assaltando um operário que voltava do trabalho, conseguiu se livrar de um linchamento público argumentando que:
"Ora, a teoria é cinza e verde é a árvore da vida!"
E a população, forçosamente, não teve como discordar. O ladrão ficou impune. O operário não se feriu gravemente e simplesmente foi embora.
"Um ótimo trato das divergências. Obrigado pela compreensão, pessoal!", agradeceu ao público, o ladrão. Reclamou apenas da truculência do operário, que saiu indignado.
E assim seguia aquela cidade, finalmente liberada de imposições e onde não havia espaço aos dogmas. Tudo desabroxava livremente.
Os habitantes, satisfeitos, podiam combinar vontade e, vez em quando, necessidade. Estava perfeito.
Anos depois, o mesmo ladrão viajou pra uma cidade vizinha, a fim de levar até lá seu estilo e suas contribuições
Uma pena, porque o desavisado não sabia que lá reinavam os dogmas e, quando necessária, a truculência.
Triste fim...