A casa dos velhos pretos...

Não sei das lutas do povo preto, da forma que o povo preto conhece...

Das suas dores, das suas lágrimas, do calo de seus pés, oriundos de suas longas caminhadas, em suas mãos após extenuantes labutas, não conheço, por não tê-los como marca em meu próprio corpo...

A história dos seres, é aquela vivenciada pelo seu corpo, que funciona como catalizador, permeável a tudo a que está sujeito...

Outra dimensão da história dos seres é aquela subjetiva, interna, que dá significação a tudo o que a sua cognição abarca...

Assim, nesta reflexão ouso pensar que apesar de não ter a vivência do povo preto, tenho a vivência daqueles que comungam com eles uma existência de privações e dificuldades, de reveses sociais e culturais...

Uma realidade na qual o esforço para ser é extenuante e crucial, e infelizmente cruel.

Por este prisma, por mais que existam diferenças nas vidas do povo preto e os não pretos, existem similaridades, pontos de convergências...

Aliás no Brasil quem não tem em sua árvore genealógica uma raiz negra?

Nas periferias todas as vivências se misturam, é no computo psicológico, sentimental que se individualizam, assumindo um caráter especial...

E por cada um ser único, um verdadeiro universo individual, que a empatia se faz necessária!

Mas, ter empatia não basta, posto que a nossa vivência não é, e nunca será devidamente suficiente para entendermos os outros... Pois, por mais que nossas histórias de vida pareçam parelhas, nossos sentimentos e inferências, em relação a elas é diferente!

Assim, procuro as lembranças de minhas experiências dentro da casa de meus velhos pretos...

Nelas, a educação sempre foi mola mestra, a impulsionar a todos, para que obtivessem em suas vidas um lugar ao sol, e tendo conseguido, que este lugar fosse o melhor possível!

Neste periodo dentro da casa dos velhos pretos, aprendi que a meritocracia esbarra em preconceitos e carecem de evolução e apuro para ter equidade entre os seres.

Apreendi o valor da oralidade, no resgate da ancestralidade, que sob a ótica da sankofa, enxerga o passado como a semente donde nascerá o futuro...

Na casa dos velhos pretos o princípio do umbutu, define que todos devem ser um...

O feminino foi sempre valorizado e apreciado dentro da dinâmica da casa, onde todos tem espaço de fala, mas a fala das crios é base, é norte!

Nesta casa de velhos pretos, a dimensão do sagrado, é ampla, diversa, plural...

Tem uma natureza transversal, onde o ser humano tem uma relação íntima com a natureza em suas diversas manifestações...

-Uma relação de interdependência!

Assim, neste dia da consciência negra, 20 de novembro, que possamos valorizar, respeitar, honrar à todos os indivíduos do povo preto, pois cada um, homens e mulheres pretos, são verdadeiros universos a serem conhecidos e desvendados, e que fazem parte de todos nós, em nosso pais continental!

Que possamos através do conhecimento, entendimento, respeito e valorização das pautas das consciências negras, com equidade, chegar à consciência humana, sem guetos, sem restrições, com harmonia dentro da diversidade!

-Sem a valorização de cada ser humano, enquanto indivíduo, com toda a sua potência e virtualismo, nunca chegaremos ao nós, enquanto corpo social!

-Valorização que deve ser diária, sem data ou efeméride pré estabelecida.

É da luta de hoje, pela emancipação das correntes que nos prende à preconceitos, pela defesa de nossos jovens, que nascerá o nosso futuro...

-A sociedade que queremos depende da sociedade que criamos...

A sociedade somos nós!

Edvaldo Rosa

Poeta e Escritor