O passado não é melhor: O etarismo e a sociedade.
Vivemos em uma sociedade ocidental, capitalista, talvez um tanto hedonista, ao mesmo tempo, etarista, pois prioriza a juventude. Sendo assim, em muitos momentos somos desqualificados nas nossas intervenções sociais simplesmente por termos 50/60/70, claro quanto mais velhos, mais invisíveis somos. Às vezes, são situações no âmbito familiar em que os pais são silenciados pelos filhos através de ironias ou mesmo dito em alto e bom som que a pessoa é velha e hoje tudo se tornou muito diferente. Mesmo que o dito “velho” tenha mestrado e doutorado, muitas leituras e vivências de viagens ou simplesmente seja alguém que possui muitas anos de vida e nela a sabedoria do viver muito embutida.
Obvio, esse desrespeito às falas pode acontecer em casais em que um dos parceiros é mais jovem e pode acontecer assim, “mas meu bem, deixa que eu falo com a nossa filha, pois para ti é muito difícil lidar com essas coisas de jovens”. Um etarismo camuflado numa fala carinhosa e manipuladora que faz a pessoa se afastar e achar que é ultrapassado para dar a opinião na educação dos filhos. Assim, aos poucos as pessoas mais velhas vão se escolhendo no silêncio pelo temor de ouvir o eterno, “ não é bem assim, tu tá velho”. Ou simplesmente ninguém ouvi-lo enquanto as conversas correm soltas, mas ele está instalado na mudez com um barulho ensurdecedor cheio de ideias dentro de si.
No entanto, encontramos pessoas que se negam a sentar nos ares do passado e ficar lá. Não possuem vontade de ficar falando do “era vez finito de quando eram jovens”, são os velhos instalados no trono do presente que possuem amizades intergeracionais, saem, fazem viagem, sozinhos ou acompanhados. Não sentem problemas com adjetivo velho/idoso, gostam de ser quem se tornaram, não possuem reminiscências de buscar os tempos do pretérito. Depois que se aposentam ,não ficam em casa caçando os amigos de infância e adolescência pelas redes sociais. Esses seguem aprendendo o novo do aqui e agora, amando e odiando a inteligência artificial, mas acreditando mais na inteligência humana, pois os anos de vida lhe deram essa sabedoria.
Essas pessoas velhas jovens a sociedade etarista possui dificuldade de lidar, não se calam jamais, pois aprenderam a lidar com a fase de ser velho somente como mais uma época da vida como foi a infância, a adolescência, a juventude. Elas são felizes e instaladas no tempo do agora.
Marisa Piedras