"BOM É SER VELHO E VIVER"
Ser velho é reencontrar a verdadeira pureza. É desafiar o tempo, sem tempo. Sim, os sonhos vão ficando distantes, e a vida incrivelmente sem graça; mas isso faz parte da trama. O medo bate à porta com menos frequência, e arriscar já não é mais tão necessário assim.
Dormir cedo e acordar cedo transforma-se em um ritual de sobrevivência. O pijama, o uniforme oficial. Os sorrisos tornam-se raros, e os abraços, ainda mais escassos. Ninguém nos visita. Os amigos, agora moram na lembrança. E os filhos ficam sempre lá, emoldurados, nos retratos de cabeceira. Já não saímos de casa para lugares onde precisamos nos demorar. A missa? Vá lá, que seja.
Pequenos prazeres, antes ignorados, ganham importância e se tornam compromissos regrados, muitas vezes inadiáveis. Deixamos de nos preocupar com o que os outros pensam e passamos a valorizar o que antes parecia banal:
Cuidar das plantas e alimentar os bichos. Resgatar os livros esquecidos na prateleira. Ouvir músicas de antigamente. Café quente e o jornal sobre a mesa... Ofícios que se repetem em nossos aposentos, todos os dias, exceto aos domingos, quando morremos para ressuscitar na segunda-feira.
O ruim de ser velho talvez seja descobrir que a vida é, no fundo, algo simples e besta. E que percebemos isso apenas quando já estamos de saída. Ser velho é viver uma solidão acompanhada. É carregar a certidão de "quem sentiu o frio da desgraça" e sobreviveu.