DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA!

Falar de racismo no Brasil é entrar em uma seara bastante polêmica (para mim, não). Muitos vão dizer que ele não existe, que, se existe, é em fatos isolados ou que pessoas negras também são racistas no chamado racismo reverso.

Bem, para mim, o racismo existe, sim. Não apenas em situações isoladas, mas em muitas estruturas hierárquicas. Embora pessoas negras possam ter atitudes racistas — afinal, são seres humanos, também, com erros e acertos, pecados e virtudes — o racismo reverso não faz o menor sentido, já que quem sofreu com a escravidão e, como consequência, o racismo, foram e são os negros, e não os brancos. Vejamos, portanto, como o racismo, seja de maneira direta, mas principalmente indireta, infelizmente faz parte do nosso cotidiano.

Como todos (ou muitos) sabem, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão. Foram quase 400 anos dessa aberração. Porém, a abolição, que ainda é "recente" (tem menos de 150 anos), não significou o fim da discriminação. Claro que houve avanços significativos de lá para cá, se comparados à época da escravidão. Entretanto, o racismo e a discriminação ainda são bem presentes em nossa sociedade atual, seja em um ambiente profissional, na atuação policial ou na política nacional. Por exemplo:

Me fale outro técnico negro de futebol da primeira divisão do futebol brasileiro, que não seja Roger Machado, do Internacional de Porto Alegre? Me fale 10 das melhores universidades do Brasil que tenham reitores negros? Diga-me apresentadores esportivos ou de telejornal que sejam negros e âncoras principais? Fale-me 10 festas Rave regadas a muita maconha, cocaína, ecstasy etc., de jovens brancos e de classe média/alta, que tenham tido uma intervenção policial? Ou 10 festas de funk na favela do Pantanal, em São Paulo, que não tenham tido? (E olha que particularmente detesto funk e sou um defensor das forças policiais em suas legitimidades). Dez executivos negros de 10 grandes empresas nacionais e internacionais?

Para finalizar os exemplos, apresente 30 moradores em situação de rua em São Paulo, que sejam loiros, loiras e de olhos azuis ou verdes? Isso não significa dizer que devemos torcer para que haja, mas, se houver, certamente não são muitos. Aliás, quando há, a primeira coisa que a mídia e muitos de "nós" fazemos é colocar apelidos, tipo: "mendingato, mendingata", porque não nos conformamos eles estarem lá. Já os negros, direta ou indiretamente, normalizamos."

Enfim, o Dia da Consciência Negra não deveria ser apenas uma simples data para se curtir o feriado, como muitos de "nós" gostamos, ou um "mimimi" como também muitos de "nós" dizemos, pois, antes de o racismo ser uma gravíssima infração jurídica inafiançável e uma covardia contra outro semelhante detentor dos mesmos direitos e deveres, é um problema de ordem moral com Deus, que a todos criou e igualmente amou. Portanto, busquemos naquilo que está ao nosso alcance acabar ou minimizar esta terrível chaga!