Educação e Desigualdades: O Cotidiano dos Estudantes Brasileiros

Em Brasília, a tal capital das oportunidades, dois mundos coexistem em um contraste gritante. De um lado, temos João, um estudante da rede pública de São Sebastião. Do outro, Maria, aluna de uma escola particular na Asa Sul. A região que os abriga parece a mesma, mas suas realidades são tão distintas como era a vida de negros e brancos no apartheid na África do Sul.

João acorda cedo, em uma casa simples, mora em uma rua não asfaltada, tem um café da manhã modesto, muitas vezes por ser insuficiente ele espera horas para se saciar no lanche da escola. Pega ônibus lotado com a mãe rumo a sua escola. Uma instituição que é precária, de uma infraestrutura limitada, com salas de aula lotadas e recursos escassos: televisões de tubo que não funcionam, ventiladores quebrados, livros didáticos insuficientes, sem passeios para expandir o conhecimento aprendido na teoria e nenhuma tecnologia ou laboratório para aprofundar os conhecimentos.

Os professores, dedicados, fazem o possível para oferecer uma educação de qualidade, mas a falta de materiais e de apoio governamental via verbas são obstáculos constantes. As oportunidades de experiências extracurriculares são raras, e João precisa se contentar com o que a escola pode oferecer.

Maria, por outro lado, acorda todos os dias em um apartamento confortável na Asa Sul. Seu café da manhã é farto, e ela é levada à escola em um transporte particular. A instituição que frequenta é moderna, equipada com tecnologia de ponta e uma vasta gama de atividades extracurriculares. Aulas de idiomas, música, esportes e até intercâmbios internacionais fazem parte do seu cotidiano. Os professores têm toda uma rede de estrutura ao seu redor e são incentivados pelos gestores a elaborarem projetos que potencializem o ensino. Eles têm à disposição todos os recursos necessários para proporcionar uma educação de excelência.

Enquanto João luta para se destacar em meio às dificuldades, Maria tem à sua disposição um mundo de oportunidades. A diferença na estrutura econômica de suas famílias reflete diretamente na qualidade da educação que recebem. João, apesar de sua inteligência e dedicação, enfrenta um caminho árduo, onde cada conquista é feito de modo quase isolado: sua mãe, que trabalha bem distante de sua região e gasta duas horas por dia em um transporte coletivo para trabalhar, não aparece nas reuniões, não acompanha o desenvolvimento de seu filho. Maria, por sua vez, tem um caminho mais suave, pavimentado pelas condições favoráveis que a cercam e tendo pais participativos nas reuniões escolares e oferecem a filha todo material necessário para ela se desenvolver.

O abismo social entre João e Maria é evidente. O discurso da meritocracia, tão discutido e defendido pela classe média, mostra-se uma falácia quando as oportunidades não são iguais: há um abismo entre o pé da montanha empobrecido e o pico da vitória vivido pelos dois. A realidade de João é marcada pelas dificuldades, enquanto Maria navega com tranquilidade pelas águas calmas de uma vida privilegiada, por uma existência em berço de ouro.

O resultado desse triste quadro é uma alta aprovação na Universidade de Brasília por parte dos filhos da bem alimentada classe média. E pouquíssimos alunos da rede pública conseguindo o mesmo feito, restando a eles o caminho de pagarem com dificuldade uma faculdade particular ou aceitarem profissões de baixa escolaridade e remuneração, repetindo a dura vida econômica dos pais.

Em meio a esses dois mundos, o Distrito Federal segue seu caótico e desumano curso, abrigando sonhos concretizados por adolescentes moradores das "asas" e não alcançados pelos moradores das escondidas periferias ao voltarem no final do dia em lotados coletivos para casa. Eu trabalhei em renomados colégios particulares e hoje sou professor na rede pública. E é muito lamentável observar como as desigualdades permeiam o sistema educacional brasileiro, evidenciando como o contexto econômico e social interfere diretamente no processo educacional dos estudantes.

13.11.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 13/11/2024
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