UM EXILADO TENTANDO SER FELIZ

Prólogo

Não me exilaram! Exilei-me espontaneamente por não suportar mais os desmandos dos poderes constituídos e malversação explícita. É claro, cada um vive uma vida e escolhe os episódios a serem contados. Essa é a história do meu exílio voluntário.

As histórias contadas, individualmente, são muito diferentes. Tenho meu particular modo de ser, minha saga e história ficcional e/ou verdadeira. O leitor perspicaz decidirá o que é verdade ou invencionice de um decrépito já em estado avançado de insanidade. – (Nota deste Autor).

MINHA CERTA OU ERRADA DECISÃO

Na minha partida abandonarei casas, apartamentos, dois jabutis, um casal de periquitos, dois calopsitas, livros, muitos livros e anotações à guisa de diário. Os inocentes animais vou deixá-los aos cuidados do notável vizinho. Isso descaracteriza o abandono de incapazes.

Eu quis mudar não apenas de endereço, mas sobretudo de vida. Deveria mudar de nome, adquirir outros documentos, um novo RG, CPF e outros essenciais à clandestinidade voluntária.

Está decidido: Meu nome seria Eugênio Soares Duarte, filho de Alfredo Fernando Soares e Paloma Soares Duarte. Como eu poderia provar essa minha filiação? Qual seria a minha naturalidade e nacionalidade? Qual o dia do meu nascimento? Deveria ter um passaporte ou não? Seria possível esse recomeço? Não sei.

O EXÍLIO VOLUNTÁRIO DE ERNEST HEMINGWAY

Ernest Hemingway também se isolou decepcionado. O escritor decidira se aposentar e tomar como retiro uma ilha da América Central, provavelmente Cuba, muito antes da ascensão de Fidel Castro em 1926.

A literatura para Hemingway rapidamente se tornou um pálido diletantismo, tão absorto estava com pescarias, conversas despretensiosas com os moradores locais e sestas após o almoço. Tenho feito algo semelhante quando escrevo meus devaneios para publicar no Instagram, Facebook e Recanto das Letras.

A leitura é uma forma poderosa de expandir horizontes e adquirir conhecimento, mas há quem diga que brasileiro não gosta de ler. Poucos me leem e os que me leem não me compreendem, não comentam, mas apenas enviam um “emoji” com um polegar para cima simbolizando uma curtida insossa e fria.

Não quero nem tão pouco posso me comparar a Hemingway. Ademais, estou quase completando 76 anos de idade, quem se importaria comigo? Quem vai querer ler um escritor de meia-tigela prolixo e excessivamente formal?

Se eu não conseguir uma nova identidade para viver na zona urbana, noutro país, enfrentando as dificuldades de um idioma desconhecido, usos e costumes alheios aos meus, tentaria viver numa caverna, aqui mesmo, no Brasil, como um eremita. Esse será o começo de uma nova lenda: O VELHO DA CAVERNA!

CONCLUSÃO

Nessa renovação há sofrimento e muitas expectativas, mas há também uma esperança. Não desejo ser um idoso amargurado, mas se não posso lutar contra as forças do mal o certo será me recolher e aceitar a minha limitação humana.

Tenho uma certeza: Em terras distantes e desconhecidas, o exilado caminha só, carregando o peso de lembranças que teimam em assombrar e atormentar sua mente. Exílio, voluntário ou forçado, não deixam apenas marcas negativas. Há nessa mudança solidariedade e franca amizade desinteressada? Talvez.

Pessoas que se isolaram, igual a mim, algumas se tornaram amargas, ressentidas e vingativas. O exílio é ou deveria ser sobretudo solidariedade, expectativa e desejo de mudança de vida, determinação para ser feliz! O meu propósito é: Ser UM EXILADO TENTANDO SER FELIZ!