Um Sonegador de Sucesso

No salão principal da nova casa de Henrique, o brilho das taças de cristal refletia as luzes do lustre imponente, um verdadeiro monumento à ostentação. As paredes exibiam obras de arte modernas que mesclavam abstrações vibrantes com os preços ainda mais ousados dos leilões.

Henrique, um empresário de sucesso, movia-se entre seus convidados com a autoconfiança de quem tem o mundo nas mãos. Todos sabiam que ele tinha um jeito peculiar de lidar com as obrigações fiscais: um jogo de esconde-esconde em que o Fisco sempre perdia.

À mesa de jantar, o vinho tinto era servido sem parcimônia. “Diretamente da adega de Bordeaux”, dizia ele, arrancando risos e olhares de admiração. O discurso era sempre o mesmo, recheado de piadas veladas sobre como “aproveitar o sistema”. Os outros empresários sorriam, alguns com cumplicidade, outros com o desconforto de quem gostaria de ter a mesma audácia, mas não tinha coragem — ou talvez, meios.

Mas do outro lado da rua, num apartamento modesto de janelas sempre fechadas, Luísa sentava-se com um chá morno nas mãos e assistia ao espetáculo de longe. Trabalhava como professora, seus contracheques minuciosamente tributados. Sua renda não permitia a menor fuga; tudo era transparente, tudo era retido antes que pudesse sequer sentir o cheiro. Olhava pela cortina entreaberta o desfile de carros importados que traziam os amigos de Henrique, e por um momento, uma sombra de resignação cruzava seu rosto.

As festas, os jantares, as viagens com fotos de paisagens exóticas inundando as redes sociais: a vida de Henrique era um filme cuja trilha sonora era de riso e taças tilintando. Já para Luísa, a música era outra — um ruído constante de boletos, uma sinfonia de renúncias. Ela sabia que pagava mais do que Henrique, e esse pensamento doía mais do que o cansaço acumulado após um dia inteiro em sala de aula.

Quando a festa terminava, Henrique ainda sorria satisfeito, orgulhoso de ter feito seu teatro. Luísa, por sua vez, apagava a luz da sala com um suspiro e se preparava para mais um dia. Os caminhos daqueles dois nunca se cruzariam. Ele viveria sua vida inflada, blindada pelo manto da evasão; ela, sua rotina de trabalho árduo, espectadora forçada de um espetáculo de privilégios.

E assim, enquanto uns ostentam o luxo de quem dribla a verdade, outros pagam por essa falsa grandiosidade, com cada centavo que não podem esconder.