Indigente

Juca fumava um cigarro sem o filtro.

Quem não conhece a história do Pirama, o herói de Gonçalves Dias?!

Mas o Juca que toma cana como se fosse água e traga cigarro sem a bucha, este não tem sobrenome e vive na lama.

Pra muitos era um pirado, que só dizia coisas sem sentido. Porque a loucura é sempre produto da ignorância alheia.

Foi morto por ninguém sabe. Talvez ninguém foi pro enterro. A repercussão vai ser àquela noite, onde os clientes hão de estranhar por que Juca não chegou ainda pra encharcar uma dose de cana e um cigarro barato - pra tirar o filtro e botar no bico, servindo-lhe de tira-gosto. Poderia algum Gonçalves fazer um poema épico narrando as desventuras de Juca Pirado?

Mataram e ninguém sentiu sua falta - a não ser o taberneiro quando teve que limpar a sujeira na frente do bar no final do expediente - porque Juca, nessa noite, não veio. Levou um tiro na nuca por ninguém sabe quem... Nenhum Gonçalves fez seu poema!

Dias depois, um rapaz junto com seus amigos de boemia dedicou um brinde à Juca e à sabedoria dos loucos.