Olívia

Aquela mulher que entrava na sala como de costume e que sentava à mesa para comunicar, falava bonito, falava com gosto, como uma pessoa que falou tanto que já domina a arte. Eu olhava, ficava triste, pois como todo humano tenho inveja. Inveja daquelas palavras difíceis, de cada sílaba em que ela pronunciava com perfeição. Afinal quem era aquela mulher, a pessoa em que eu via sempre como aquela, e nunca como minha ou dela. Eu tinha distância, receio de não saber, de não argumentar, até coisas bobas e cotidianas. Isso me inspirava a ser melhor, a falar como gente fina, mas logo eu, pobre e feia. Naquela tarde, não pensava na fome, na guerra, nos meus pais, pensava no futuro. Imaginava como o tempo me prendia ao meu passado, e como ele gostava de me perpetuar no presente. Onde as dores do dia anterior me afligem e como o amanhã me dá medo e angústia. Os homens nasceram para sofrer também, e sofrem bastante até. A vida judeia muito de nós, e como nos prende e nos açoita com imagens tristes e vivências estranhas. Ah como eu queria ser falante, comunicadora, escritora, professora ou até mesmo autora de algum livro importante. Ser importante tinha significado para mim, era minha preocupação, meu peso que eu carregava nas costas. Contudo, hoje pensando bem, acho que ser eu já basta.

Ágatha Ternurie
Enviado por Ágatha Ternurie em 29/10/2024
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