Amigos do Ponto
Amigos do Ponto
___ Bom dia!
___ Bão.
Apenas isso, sem mexer um músculo sequer do rosto. Uma face encardida e enrugada pelos anos entregue ao vício. Estava ali, sentado na porta do bar, desde às cinco horas. Era uma manhã chuvosa, de vez em quando encolhia os pés e arrumava o boné, fugindo dos pingos da chuva. Aos seus pés, tão encolhido quanto ele, um cãozinho fiel dormia, indiferente aos primeiros moradores a caminho da padaria.
Pensei : “ Se tomasse a chuva, talvez deixasse que a água escorrida lavasse e levasse o cheiro fétido do seu corpo”! “ Mas, não teria uma toalha ou alguém para lhe ajudar a enxugar o corpo dolorido e trêmulo de frio. Frio? Ou tremor da dependência química?”
Fui para casa pensando neles. No homem e no cão. Senti a necessidade de me aprofundar na sua história. Seria um conterrâneo ou alguém que buscou a minha, a nossa cidade para morar?
Na volta para casa, com uma sacola de pães quentes, senti uma piedade de mim, mais do que dele. Eu sei que este personagem irá povoar a minha mente e não me dará sossego até que eu o desnude por inteiro.
A responsabilidade me assanha e me atiça a compor e registrar uma nova história, agora com um personagem real. Muitos outros companheiros se juntaram a ele. Sim, são vários. A cada hora, um novo ser chega e fazem uma rodinha até a abertura do bar. Homens e em especial, uma mulher.
Pronto. Está formado o enlace. E eu? Fico aqui planejando como adentrar nesse círculo. Sei que terei vasto repertório para seguir minha sina de “ escritora”, assim me disponho a escrever, escrever e escrever . Ah, vamos em frente! Emoções, com certeza, não faltarão!
Estela Oliveira
24/10/24