Velheza
Ele mirou em mim. Botou o dedinho na tela e clicou. Depois olhou para a imagem capturada e decretou:
-Mãe, você está ficando velha!
Eu sei disso. Eu estou ficando velha. Muito antes do que eu imaginava ou quisesse. Mas a vida é assim. O tempo é essa coisa rigorosa, exigente e eficiente por demais. Vai esticando nossos elásticos, comendo nossos neurônios, puxando pra baixo nossas curvas, derretendo a cara e é isso... Não há o que fazer. Ou há, mas algumas de nós, não querem ou não podem pagar por procedimentos estéticos cada vez mais caros.
Aprendi com a minha mãe o segredo para parecer sempre jovem: sorrir! Ela tem rugas, tem flacidez, mas tem jovialidade e até alguma inconsequência pueril, parecendo ser sempre uma pessoa jovem, porque minha mãe vive sorrindo e isso torna sua velhice muito mais bonita.
Não dá para se ter a beleza dos vinte e dois anos, num corpo de quarenta e seis. Fazemos o que podemos. Tentamos uma beleza branda, que se alisa na maciez dos cremes, que se perfuma e passa um batonzinho só pra desopilar. Mas também estamos descobrindo que não há verdade mais verdadeira do que a da máxima: “A beleza está nos olhos de quem vê”. Afinal, se olharmos de perto, ninguém é bonito. Vamos combinar que não há unanimidade nisso.
Elizabeth Taylor, atriz anglo-americana que foi um ícone de beleza com seus olhos violeta, viu sua carreira declinar quando começou a envelhecer e ficar flácida como toda boa senhora. Há quem diga que a nonagenária Sophia Lóren não envelheceu bem, pois teria exagerado nos procedimentos estéticos, prejudicando sua beleza natural. Já Jane Fonda, na minha modesta opinião, tornou-se uma octogenária bem razoável neste quesito. Segue bonita e elegante, tendo provavelmente acertado o profissional que cuida de seu rosto.
Mas vamos combinar que não somos mulheres como elas. Não temos toda a grana delas para bancar os erros e acertos dos profissionais da beleza que prometem uma aparência eternamente jovem, mas que dura no máximo seis meses.
Nossas avós não tinham crise com relação a isso. Nossa geração talvez seja a primeira a sofrer esse pânico geral com o envelhecimento. Tudo isso porque enquanto essa era uma preocupação das grandes protagonistas, que perderiam papeis no cinema quando envelheciam, agora nós também somos protagonistas sociais, especificamente das redes. Vivemos a hiperexposição e é ela quem exige de nós a juventude eterna.
Temos medo ou vergonha de envelhecer porque agora somos muito mais vistos do que há algumas décadas. Flertamos, paqueramos, produzimos conteúdo, nos mantemos no mercado de trabalho até mais tarde, e para tantas demandas temos a necessidade de permanecermos atraentes até o fim da vida. Uma utopia, lhes afirmo. Exceto quando se morre cedo, coisa que ninguém quer.
Se a vida não tem hora pra terminar, a boa elasticidade da pele tem. E tudo vai mesmo cair. O que me consola é que meu filho que hoje me acha velha, continuará me amando, ainda que eu fique cada dia mais velha. O homem com quem me casei, e que disse que para ele isso não faz a menor diferença, envelhecerá comigo e passará pelas mesmas coisas, então, se posso aceitar sua velhice, ele também aceitará a minha. Do contrário, que cada um seja feliz por si.
A verdade é que quem me acha bonita hoje, não me acha bonita por causa da minha pele sem rugas, porque eu já tenho muitas. Talvez enxergue em mim algo além da aparência física, e se assim for, seguirá comigo, envelhecendo ao meu lado, porque duro mesmo é envelhecer sozinho.
Os bons amigos são os que fazem a dobradinha: velhice + leveza = velheza! Então, brindemos à velhice dos que estarão conosco, mesmo depois de muita flacidez, pois é com esses aí que vale à pena seguir.
* Foto de hoje cedo, tirada por Vinícius e que inspirou esta crônica.