Um Lugar Chamado Ohá

Na infância, existia em mim uma utopia, um espaço de pureza e harmonia que eu chamava de "Lugar chamado Ohá". Eu o encontrava no reflexo de um quadro da Santa Ceia, pendurado na parede da cozinha na casa de meus avós. Era uma fantasia que nascia do contraste mágico entre a imagem no quadro e a paisagem que a janela da cozinha mostrava. Ali, com a inocência das crianças, eu avistava campos verdes, montes suaves e um céu sempre azul – um cenário perfeito, onde as pessoas viviam em paz e respeito.

Ohá era um lugar de amor genuíno. Cada pessoa parecia saber seu papel em uma rede de gentileza que abraçava os animais, as crianças e os idosos. Não havia exploração nem avareza; os trabalhadores recebiam um salário digno, suficiente para sustentar suas famílias, desfrutar de um lazer simples e até realizar alguns sonhos. Eles conseguiam até ter um bom carro, um luxo modesto, mas conquistado com esforço honesto. Eu via em Ohá um equilíbrio perfeito entre o trabalho árduo e a alegria de viver, um lugar onde ninguém precisava se preocupar com a injustiça ou a maldade.

Mas a verdade é que Ohá nunca existiu fora da minha imaginação. Era uma paisagem interna, colorida pela esperança e pela inocência. Cresci e percebi que, na realidade, aquela imagem era apenas um gramado que se estendia para um morro, onde meu avô e meu pai deixavam os animais pastarem. Aquele quadro e aquela janela formavam um portal que, por anos, me levaram a Ohá, um lugar que só a visão de uma criança poderia criar.

Hoje, já adulto e com as marcas das lutas cotidianas, olho para trás com saudade daquele "Lugar chamado Ohá". Vejo nele uma metáfora para o Brasil que sonhamos para todos. Quem sabe um dia possamos construir, juntos, um Ohá real, onde o respeito, a dignidade e a compaixão não sejam apenas fantasias de um passado, mas valores que se refletem no presente. E que o Brasil, assim como Ohá, possa um dia ser o lugar onde todos têm espaço para viver e sonhar.