Políticos em Campanha
Eu me lembrei de um padre lá do meu interior: padre Teobaldo. Era um padre doido por dinheiro, sabe? Num certo dia, chegou um candidato para falar com ele e disse:
-Padre, o senhor é muito influente na cidade, todo mundo gosta do senhor, da sua Homilia e a igreja fica sempre lotada para ouvi-lo. Eu queria que o senhor encontrasse uma forma de falar sobre a minha pessoa na hora da missa, para eu ganhar mais votos na próxima eleição! Dá para fazer isso?
-Não! Eu não posso tomar partido na política, não! – respondeu-lhe o padre!
-Veja bem, seu padre: todas as vezes em que o senhor falar o meu nome, lhe darei uma boa grana: R$50,00(Cinquenta reais), topa? – indaga!
O padre – já almejando a grana – decidido pergunta:
-Qual é o seu nome? – respondeu o padre!
-José! – dissera o político!
(Bom demais! José é bíblico, então fica bem mais fácil! – pensou o padre.)
-Anote aí, coroinha: José, R$50,00 – ordenara o padre, ávido por faturar as notinhas! Então, todas as vezes em que eu disser: José, você anota! – avisou ao trêfego coroinha!
Quando José saiu da igreja, entrou o candidato da oposição com o mesmo objetivo: comprar o apoio político do padre, para se eleger!
-Senhor Padre, eu queria que o senhor me ajudasse. No domingo, a missa vai estar lotada, festa da padroeira. Eu quero a sua bênção! Me ajuda na eleição!
Por já estar comprometido com o outro candidato, o padre não aceita ajudar o opositor: -Não! Eu não posso me envolver em política! – dissera!
-Seu padre, vamos combinar uma coisa: eu vou dar R$500,00(Quinhentos reais) a cada vez que o senhor falar o meu nome!
(O valor mexeu com o ambicioso padre, que nem precisou repensar como iria fazer. Já está tomada a decisão!)
-Qual é o seu nome? – indaga!
-Roque! – responde o político opositor!
(Xi!.., Lascou-se! Este nome não tem na Bíblia! Como vou fazer para pegar esta grana? O padre fustiga os cabelos. Nossa! Isso é bom demais! Não posso perder esta chance. Então – e já pensando nos causados efeitos da onomatopeia de um serrote – o padre coça as ávidas mãos atiçadas pela cobiça e diz para os seus botões: – Vai dar certo! Tem que dar certo! Satisfeito por ter encontrado a solução, sádico dá uma íntima risada!)
Agora – e já estando fora das suas elucubrações – resoluto decide:
-Anote aí sacristão: Roque R$500,00(Quinhentos reais). – ordena!
(...)
Enfim, chega o domingo! A igreja estava lotada – a cidade estava todinha dentro da igreja – pequena demais para tanta gente – fazendo o povo se acotovelar, para nela caber com o fito de assistir à missa em homenagem à Padroeira. Aí o padre, olhando de soslaio, piscou para o sacristão e o astuto coroinha, que já estava com o caderno na mão, para as anotações. Fique atento a tudo e sem se desligar do dinheiro que será recebido! -Anote tudo, tudinho mesmo, sem se esquecer de nada! – ordenara ao sacristão!
A missa é iniciada!...
-Irmãos, hoje vamos falar sobre José! (José, R$50,00 – anotou o sacristão!)
-José, era um homem bom! – dissera o padre! (José, R$100,00 – anotou o sacristão)
-José era o Pai de Jesus! (José, R$150,00 – anotou o sacristão!
-José, era um bom marceneiro! (José, R$200,00 – anotou o sacristão)
-José (José R$250,00, anotou o sacristão) pegou um serrote e roque (Roque, R$500,00) e roque (Roque, R$1.000,00) e roque (Roque, R$1.500,00) e roque (Roque, R$2.000,00), roque (Roque R$2.500,00) e roque (Roque R$3.000,00). E foram tantos e tantos “roques/roques” ditos que, o Roque político quase foi à falência!
Conta-se que a onomatopeia “roque” (som produzido pelo serrote ao cortar a madeira, n’um bem bolado plano do esperto padre) rendera-lhe uma ‘grana preta’ e sem tamanho, bem maior que o cometido pecado da avareza!
Epílogo:
Nota do autor:
Esta crônica é uma crônica situação da porca política brasileira: um nojento e crudelíssimo autorretrato de todas as coisas pelas quais, passivos passamos e que, silentes, aceitamos. O clero – abrangente à todas religiões – se tornou um grande Curral Eleitoreiro, onde os políticos vão comprar os votos das incautas e lobotomizadas ovelhas!
Mas há de se creditar culpa a todos. Entre um governo corrupto e o povo que o elege, há uma corrupta e certeira solidariedade simbiótica: Ambos – povo e nação – são farinhas de um mesmo saco!
Alguns pensamentos:
Uma nação vale tanto quanto os seus líderes. Quando os seus líderes nada valem, a nação os acompanha na queda do ostracismo, da miséria e corrupção!
(Altamiro Fernandes da Cruz)
Corruptíssima república ‘plurimae leges’. "Estado corrupto, múltiplas leis".
(Tácito, Legislador romano)
O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons!
(Martin Luther King)
~~*~~
Imagem: Google