BONECAS

 

Nós, mulheres, desde a mais tenra idade, somos treinadas para sermos mães. Os primeiros brinquedos que recebemos são as bonecas. Eu não as tive muitas. As primeiras, poucas, foram de pano ou de palha de milho, confeccionadas por minha avó. Tinha entrado na adolescência quando ganhei a mais bonita, com cabelos castanhos, compridos, olhos azuis que se destacavam na face rosada e que se abriam e fechavam sob uns cílios escuros e espessos. Veio com delicado vestido de organdi estampado sobre a roupa de baixo, em algodão. Ganhei-a após uma viagem de papai a São Paulo.

 

A boneca durou muitos anos. Eu já estava casada quando achei que devia passá-la para a frente e assim fiz. Depois dessa primeira boneca de verdade, ganhei uma das primeiras Barbies que apareceram no mercado. Eu fazia-lhe penteados no cabelo louro e elegantes vestidos para seu guarda-roupa. Desfiz-me desta quando já adulta. Estava bastante usada, cabelo emaranhado e havia perdido a cor original. Entretanto, foram somente duas.

 

Hoje em dia, vejo as meninas pouco interessadas em bonecas. Anseiam por um celular ou tablet, um jogo eletrônico ou outra coisa qualquer, mais modernosa. Crianças em geral, nestes dias, recebem tantos presentes, uma infinidade de brinquedos, que logo deles se aborrecem.

 

Vejo quartos de meninas abarrotados de bichinhos de pelúcia e os de meninos, repletos de coleções de carrinhos de todas as marcas e modelos, além de outros brinquedos. Penso naquelas crianças que não têm nada, não lhes falta só o brinquedo, mas também o alimento. Ocorre-me que o IBGE divulgou recentemente o achado de pesquisa em que houve um aumento exponencial de lares brasileiros onde somente a mãe é provedora, fazendo as vezes de progenitora e pai. Muitas tiveram filhos ainda adolescentes, com homens que não só não os reconheceram como também não provêm o seu sustento. Vivem em moradias precárias e assim, também, são suas vidas.

 

Estas crianças, às vezes, ganham bonecas, bolas, carrinhos de alguma entidade beneficente, pelo tempo de Natal. Há um fosso que separa as pessoas em nosso país, a desigualdade. É uma frase batida, porém sempre realista.

 

E uma ministra, hoje deputada federal se preocupou tão somente com algo fútil como:

Meninas vestem rosa!

Meninos vestem azul!

 

Ah! Se fosse tão simples.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 26/10/2024
Reeditado em 27/10/2024
Código do texto: T8182711
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