O Voo Esquecido: O Destino dos Inventores Brasileiros
No dia 23 de outubro de 1906, um homem ousado subiu ao céu com sua invenção, no que viria a ser o primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar, autopropulsionado e controlado. Santos Dumont, com seu 14 Bis, alçou voo no céu francês, mas seu coração sempre esteve no Brasil. Ironicamente, foi a Europa que lhe deu asas, enquanto sua pátria natal, o Brasil, permanecia indiferente aos seus feitos.
A aviação, que hoje se espalha por todos os cantos do mundo, carrega em suas raízes o esforço de um brasileiro que precisou buscar reconhecimento longe de casa. Santos Dumont encontrou na França o apoio que faltava aqui, onde a política e a visão limitada das elites sufocavam o brilho de grandes mentes. E ele não foi o único. Outro exemplo amargo dessa triste sina foi o padre Roberto Landell de Moura, pioneiro nas telecomunicações. Mesmo antes dos irmãos Marconi, ele desenvolveu o rádio, mas seu trabalho foi ignorado por motivos que iam além da ciência. Brasileiro e padre, essas eram as "credenciais" que selaram o seu destino.
Essa tradição de desprezo por nossos inventores não ficou no passado. Ainda hoje, muitos talentos brasileiros são obrigados a buscar reconhecimento em terras estrangeiras, onde suas ideias são acolhidas e desenvolvidas, mesmo assim na maioria das vezes seus produtos não valorizados aqui. A falta de incentivos, o desinteresse público e a burocracia continuam a ser os ventos contrários aos sonhos de nossos criadores. Se Santos Dumont tivesse esperado pelo Brasil, talvez o avião nunca tivesse saído do chão.
Assim, no Dia da Aviação, fica o lembrete amargo de que, enquanto nossas invenções voam alto, nossos inventores muitas vezes ficam aterrados, aguardando a decolagem que nunca vem. O Brasil sempre foi uma terra fértil de ideias, mas falta ainda a coragem de dar valor a quem faz o impossível acontecer.