AH, O TEMPO NÃO PARA!

Tanto se falou, se fala e se falará sobre o tempo, mesmo se caracterizando como um recurso que flui, sendo parte essencial da jornada, que agrega muito conteúdo, e se pauta por desafios, os simples encaramos logo de frente, buscando solução definitiva.

A depender da complexidade apresentada pelo desafio, postergamos essa decisão, claro, quando isso é possível, evidenciando como essa abstração especial se encontra impregnada de cotidiano.

Pressões e exigências dessa vida moderna muitas vezes impedem uma reflexão crítica sobre a relação com o tempo. Independente da variável social o importante é viver em comunhão com nossa proposta de vida, investindo tempo suficiente em atividades e convívios que nos alimentem de prazer?

O tempo já ocupou a mente de filósofos, mesmo entre eles não existe consenso, para nós pobres mortais, fica complexo o entendimento de como flui esta abstração humana. A ideia pode se tornar palpável, quando se associa o tempo a um ente concreto, como a fluidez da água caindo no vão entre dedos ao tentarmos saciar a sede com as próprias mãos.

Outras vezes ao se vivenciar a ansiedade que precede um momento especialmente aguardado, que a princípio parece bem longe, mas num estalar de dedos se materializa, então em algumas vezes você sequer consegue desfrutar da coisa em si, distraído por outros fatos.

Infelizmente essas situações se repetem, e insistimos em não captar a mensagem, independente do conteúdo que pode ser uma nova conquista, encontro com pessoas especiais ou mesmo a concretização de algum sonho há muito acalentado. Esse tempo se aproxima do que conhecemos como mágico, nos levando a viver com intensidade, acreditando de forma positiva que o futuro dá mostras que chegou bem antes e melhor do que o esperado.

Por outro lado, tempo perdido é um conceito que chega carregado de frustração. Quantas vezes mofamos de esperar uma consulta, o conserto de algum equipamento, ou parado num engarrafamento urbano ou em estradas.

Esse sentimento traz à tona a sensação de vazio, nos fazendo questionar se a escolha poderia ter sido diferente? O desafio é tentar encontrar equilíbrio entre esses dois tipos de uso do tempo.

Um álibi quase perfeito para driblar, pelo menos em parte, essas longas esperas, algumas das vezes em locais de pouco conforto é ter a mão um livro, este permitirá abstrair a monótona realidade momentânea, passando a vivenciar a riqueza intrínseca aos bons livros, claro que essa estratégia só tem aplicabilidade para quem os aprecia.

Essa oportuna estratégia além de não apresentar contra indicação, ainda manterá seu humor preservado, espantando aquela sensação de marasmo, que fica estampada na expressão das pessoas que estão a sua volta.

À medida que crescemos vamos sendo doutrinados a abrir gradativamente mão de nosso tempo livre, que se inicia com o tempo de escola, que substitui o prazer das brincadeiras, pela exigência de aumento da seriedade dentro da sala de aula. Essa tarefa encontra sua maior gula do tempo na faculdade, mas ainda pode ficar mais obsessiva, se a opção for levar adiante o mestrado, ou incluir o doutorado como meta acadêmica de vida, com a salvaguarda de contar com um tempo pré estabelecido.

Mas nada disso se compara à máquina devoradora de tempo da fase laboral, lá você literalmente se transforma numa espécie de produtor de conteúdos inesgotáveis, e permanecerá nesta situação por toda sua fase adulta, algumas vezes invadindo a fase idosa. Poucos funcionários conseguirão compatibilizar bem o tempo para cuidar dos afazeres e também do entretenimento fora do horário comercial, nos cinco dias úteis, aliás, úteis para quem cara pálida?

Assim família e esportes, claro, para quem valoriza essas duas entidades, restará apenas àquelas restritas horas da noite e o curto período do final de semana. Agora sim, precisará fazer das tripas coração para agradar gregos e troianos com a pouca disponibilidade dele, o tempo.

Mas a vida é composta de ciclos, e cada fase traz suas lições do valor do tempo. Aprender a viver o presente, e assim valorizar cada instante, passa a ser fundamental, sem a desculpa de deixar sempre alguma coisa prá depois.

O que consideramos "perda" pode, muito bem, ser a oportunidade de aprendizado e crescimento. Encarar o tempo como um aliado, e não como um inimigo, permite transformar experiências em sabedoria, contribuindo na construção um futuro gratificante.

A pegadinha preparada para os incautos vem com a aposentadoria, que sem a preparação para o que vem depois de tanta carência de tempo, uma enxurrada de tempo livre, que pode levar o sujeito tanto a uma expansão de horizontes, como também seguir ao pé da letra a indicação de passa a restringir sua vida aos aposentos.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 20/10/2024
Código do texto: T8178153
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