Meio século de amizade
Na cronologia do tempo, caminhávamos pequeninos para a escola. Éramos crianças que decorávamos a tabuada e chorávamos quando nervosos errávamos no ditado. Crescemos com brincadeiras de pega-pega, mamãe posso ir, caçador e ciranda. Brincávamos no pátio da escola e vez que outra rolávamos no chão em um tombo que rendia muitas risadas. Envergonhados, voltávamos para a sala de aula com joelhos e nariz esfolados. De repente, já grandinhos, nos juntamos novamente na Escola Cônego Scherer e lá permanecemos unidos até completar o fundamental. Já pré-adolescentes, promovíamos reuniões dançantes na garagem da vez.
Íamos para o Clube do Comércio dançar Bee Gees, Beatles, Freddie Mercury (“Love of my life”).
Os mais desinibidos e serelepes namoravam e era lindo de ver o caminhar de mãos dadas dos casaizinhos na saída da escola.
Outros tantos tinham paixões platônicas, cheias de sonhos e fantasias, porém, a amizade e o carinho entre os colegas eram espontâneos. Toda vez que chegávamos ao fim do ano letivo, estudávamos para passar e, às vezes, ficávamos em recuperação na disciplina de inglês com o “teacher” Volney. Ajudávamos uns aos outros e alguns se reuniam para estudar na casa de alguém e, quando aprovados, permanecíamos juntos no ano seguinte.
Quando chegamos ao último ano, tínhamos que pensar no ensino médio, que, naquela época, era preciso escolher entre magistério, administração ou secretariado. Que responsabilidade!
Aqueles que não optavam por nenhum dos cursos iam estudar na Capital nas escolas Parobé, Concórdia, São Judas Tadeu e tantas outras.
Já saímos fazendo teste vocacional, que sempre dava certo, pois levávamos muito a sério a escolha.
Tínhamos aulas de datilografia e era uma alegria quando nos encontrávamos nestes cursos, afinal, cidade pequena promove encontros o tempo todo.
Éramos de uma época que, nas séries finais do ensino fundamental, tínhamos Técnicas Domesticas. Aprendíamos a arrumar a mesa, servir um café, pregar botão. Técnicas Agrícolas: aprendíamos a fazer canteiro na horta da escola. Técnicas Comerciais: aprendíamos a preencher um cheque, a fazer cálculos em simulação de compras. Por fim, Técnicas industriais: aprendíamos a usar ferramentas e máquinas, tais como serra fita, torneadeiras para fazer rolo de macarrão, colheres de pau, pirógrafo para fazer desenhos na madeira, tintas e pinceis. Tudo muito bem monitorado pela professora Suzete. Uma beleza! Para isso havia um enorme galpão na escola com todas as ferramentas necessárias.
Tínhamos educação física com o professor Cabide, cujo nome era Fernando. Corríamos muito no pátio nas aulas de atletismo. Sim, tínhamos atletismo. O professor era um verdadeiro atleta de ombros largos e por isso o apelido de Cabide.
Havia aqueles que se destacavam no voleibol, handebol e a torcida era grande.
Já na área artística, tínhamos que inventar versos, músicas pequenos diálogos teatrais, tudo para ser apresentado nas aulas de música da professora Lourdes.
Quando tínhamos que fazer pesquisa, formávamos grupos e íamos para a Biblioteca pública Municipal Darcy Azambuja pesquisar na Enciclopédia Barsa. Que encantamento!
Quando chegou o dia da formatura, um sentimento de alegria e saudades brotava em nossos corações e, desta forma, pensávamos no que seria daqui para frente e cada um precisou seguir caminhos diferentes com muita expectativa do novo que viria.
E foi assim. Uns mudaram pra longe, casaram tiveram filhos , separaram, casaram novamente e, agora por mais vezes, voltamos a nos encontrar para celebrar a amizade que já tem meio século de existência.
Alguém escreveu:
“Amigos verdadeiros são difíceis de encontrar, difíceis de deixar e impossíveis de esquecer.”