Cipriano Barata: O Homem Que Lutou, Mas Não Alcançou a Independência do Brasil

Chamo-me Cipriano Barata, um homem que lutou fervorosamente pela independência desse país, o qual infelizmente continua escravo dos donos do mundo. Nasci em Salvador, em 26 de setembro de 1762. Desde cedo, a justiça e o desejo de liberdade eram minhas inquietações. Formei-me em medicina, mas minha verdadeira vocação sempre foi à luta pela justiça e pela independência do Brasil.

Em 1798, envolvi-me na Conjuração Baiana, também conhecida como Conspiração dos Alfaiates. Esse movimento, de caráter separatista e republicano, buscava a independência da Bahia e a abolição da escravatura (não suportava ver homens chicoteados e tratados como mercadoria apenas porque tinham a cor da pele escura). Fui um dos líderes dessa revolta, que, apesar de reprimida, plantou as sementes da liberdade em muitos corações e mentes.

Não parei por aí. Em 1817, participei da Revolução Pernambucana, que tinha como objetivo a independência de Pernambuco e a criação de uma república. Embora a revolta tenha sido sufocada, ela marcou um importante capítulo na luta pela independência do Brasil. Já em 1821, fui eleito deputado pela Província da Bahia às Cortes de Lisboa. Lá, defendi a separação do Brasil de Portugal. Essa postura e minhas críticas ao absolutismo me tornaram uma figura controversa no meio público.

Minha voz não se calou. Em 1823, fundei o jornal “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”, onde denunciei as pretensões absolutistas de desposta Dom Pedro I e defendi a independência e os direitos do povo brasileiro. Através das páginas desse jornal, continuei a lutar pela liberdade e pela justiça.

Em 1825, fui preso por minha participação na Confederação do Equador, um movimento separatista que buscava a criação de uma república no Nordeste do país. Mesmo encarcerado, não deixei de escrever e de lutar por minhas ideias. Permaneci preso até 1833, quando finalmente fui liberto. E minha vida chegou ao fim em 7 de junho de 1838, em Natal, Rio Grande do Norte. Deixei meu legado como combativo defensor da independência do Brasil.

Terminei meus dias vendo uma falsa libertação da pátria ao perceber que a nossa independência foi toscamente feita de cima para baixo, sem participação popular e o pior, liderada justamente pelo descendente da Coroa Portuguesa que nos oprimiu tanto. Falsa liberdade que não alterou em nada a vida da maioria do povo composta de escravos.

Mas, ao ressuscitar e observar o Brasil de hoje, vejo que a independência pela qual tanto lutei realmente não foi concretizada. O país continua preso em uma teia de dependência econômica e trocas desiguais com as potências capitalistas. O Brasil ainda é um grande e atrasado latifúndio encravado na América do Sul para servir aos interesses das economias centrais, perpetuando a dependência e o subdesenvolvimento de nossa sociedade.

A industrialização, que poderia romper com essa dependência, não foi plenamente realizada. O Brasil exporta commodities de baixo valor agregado, como soja, minério de ferro e petróleo, enquanto importa produtos manufaturados de alto valor agregado, como máquinas e equipamentos eletrônicos. Essa dinâmica resulta em uma balança comercial desfavorável e em uma dependência tecnológica e industrial. Estamos no contrário do progresso, estão desindustrializando o país: preferem abrirem espaço para multinacionais que fortalecer a produção local. Isso tem levado à perda de empregos qualificados e ao aumento do desemprego estrutural.

Além disso, o processo de privatização de empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce e a Embraer, intensificou essa dependência. A falta de políticas de substituição de importações e de intervenção estatal deixou o país vulnerável às flutuações do mercado internacional e às imposições das potências estrangeiras. A dependência estrangeira na industrialização do Brasil é evidente ao ver a presença significativa de multinacionais no setor industrial. Empresas estrangeiras dominam áreas como a automotiva, a eletrônica e a farmacêutica, o que limita a nossa capacidade de desenvolver uma indústria nacional robusta e tecnologicamente avançada. Como diz um cancioneiro, a solução é alugar o Brasil?

As privatizações e a dependência estrangeira na industrialização são reflexos de uma estrutura econômica que favorece os interesses das economias centrais em detrimento do desenvolvimento autônomo e sustentável do Brasil. Assim como nos tempos da colônia, permanecemos vendendo a preço de banana nossas riquezas naturais para as potências globais.

Dessa forma, vejo que a luta pela verdadeira libertação do Brasil ainda não terminou. É necessário continuar a buscar a justiça, a igualdade e a soberania que tanto sonhei para nossa pátria. Que haja homens e movimentos sociais que saiam da lógica do entreguismo neoliberal e persistem na luta por uma nação que possa finalmente se libertar das amarras da dependência e alcançar a verdadeira independência.

10.10.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 10/10/2024
Reeditado em 10/10/2024
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