O Povo Brasileiro e o Desafio do Voto Coerente

O ato de votar é, sem dúvida, um dos mais importantes para o funcionamento de uma democracia. No Brasil, ao longo dos anos, tem-se notado uma certa incoerência nas escolhas eleitorais. É comum vermos cidadãos votando para presidente em um candidato de um partido e, simultaneamente, elegendo para o Congresso Nacional ou para os governos estaduais candidatos de partidos opositores. O que parece ser uma decisão individual ou baseada em preferências distintas, na verdade, compromete a governabilidade e o andamento de projetos que poderiam beneficiar o país como um todo.

Essa contradição surge, em parte, de uma falta de entendimento profundo sobre o funcionamento das instituições políticas. Muitos eleitores não compreendem que, ao eleger um presidente ou governador, é fundamental dar a ele uma base de apoio nas assembleias e câmaras, para que seus projetos possam ser implementados sem tantas barreiras. O resultado desse descompasso é um país travado, onde os governantes não conseguem avançar com suas propostas, porque dependem de negociações desgastantes e, muitas vezes, infrutíferas com uma oposição majoritária.

A solução para esse problema, ao meu ver, passa pela educação. No passado, matérias como Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política do Brasil) faziam parte dos currículos escolares. Esses conteúdos proporcionavam aos estudantes uma compreensão mínima de como funcionava o sistema político e quais eram seus direitos e deveres enquanto cidadãos. Hoje, essas disciplinas desapareceram, e o resultado é uma geração de eleitores que muitas vezes não sabe como o país é administrado ou o impacto de suas escolhas nas urnas.

Infelizmente, as escolas contemporâneas, muitas vezes, têm sido palco de debates sobre doutrinação ideológica, mas é importante fazer uma distinção clara. A função da escola é educar, oferecer conhecimento e ferramentas para o pensamento crítico. Quem doutrina, de fato, são líderes religiosos, pastores, padres ou outros guias espirituais que, em suas funções, orientam seus seguidores segundo um conjunto de crenças. A escola deve ensinar os alunos a pensar por si mesmos, a tomar decisões informadas, especialmente no campo da política.

Portanto, urgente que voltemos a inserir o ensino de política nas escolas, não como um veículo de ideologias, mas como uma ferramenta para formar cidadãos conscientes de seu papel e de suas responsabilidades. Os futuros eleitores precisam saber a importância de votar de forma coerente, entendendo que o apoio a um presidente, governador ou prefeito depende, muitas vezes, de uma maioria legislativa que caminhe ao lado desse governante.

Em um Brasil ideal, teríamos uma população que compreendesse que a democracia não é apenas apertar botões na urna eletrónica. É refletir, ponderar e votar de forma a garantir que quem está à frente do executivo tenha os instrumentos necessários para cumprir suas promessas de campanha. Não se trata de escolher lados cegamente, mas de entender que a política é, antes de mais nada, um exercício de construção coletiva. E só conseguiremos avançar quando formos capazes de votar com coerência, alinhando nossas escolhas em todos os níveis.

Se quisermos um país que funcione melhor, precisamos, mais do que nunca, educar nossos jovens a compreender o sistema político e o impacto de suas escolhas. Caso contrário, continuaremos a ver um Brasil dividido, onde cada eleição é uma batalha de opostos que, ao invés de se complementar, acabam por paralisar o progresso.

Sandro Almeida
Enviado por Sandro Almeida em 10/10/2024
Reeditado em 10/10/2024
Código do texto: T8170276
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