A MÁSCARA

Qual máscara vai usar hoje?

É uma pergunta simples, mas que carrega um peso imenso. E por muito tempo eu acordei e a fiz pra eu mesmo.

Em uma sociedade cada vez mais superficial, escolhemos diariamente as máscaras que nos protegem dos olhares julgadores e das palavras cortantes. São disfarces que vestimos para nos adequar a ambientes, expectativas e normas sociais que nos apertam e sufocam. A autenticidade vai se dissolvendo em meio a personagens que criamos para sobreviver. E é algo extremamente perigoso pois podemos nos esquecer um dia de quem somos de verdadeiramente.

Vivemos em um mundo que celebra a aparência em detrimento da essência. A verdade é ignorada enquanto fingimos ser o que esperam de nós. O individualismo exacerbado e a cultura do "parecer" nos afastam da profundidade das relações humanas. As conexões superficiais substituem laços que antes eram formados com base na empatia e na troca genuína de experiências. As redes sociais, onde muitos constroem uma vida idealizada, são palcos onde encenamos versões aperfeiçoadas de nós mesmos, em busca de aceitação e validação que só existe dentro da nossa cabeça.

Mas não é só a sociedade em geral que se perde nesse labirinto vazio. Aqui no Vale, o peso das máscaras é ainda mais opressor e aterrorizante. Para muitas pessoas queer, usar uma máscara não é apenas uma escolha – é uma estratégia de sobrevivência. Quando o medo de ser quem realmente somos se torna constante, quando a rejeição e o preconceito nos fazem recuar, a máscara se torna uma defesa. Ocultamos nossos desejos, nossa identidade, nossos amores. Criamos uma persona que parece mais aceitável, mais "normal", e isso, aos poucos, nos devora por dentro. E não somente falando sobre o mundo hetero que nos rodeia, mas também aqui dentro, onde a necessidade de aceitação faz com que muitos desistam de si mesmos para caber em espaços onde nunca se sentirão verdadeiramente confortáveis. E sim, até aqui no Vale precisamos de máscaras. Senão, a solidão, que deveria ser apenas um momento, vira companhia permanente.

Nos afastamos uns dos outros e nos aprisionamos dentro de nós mesmos, enclausurados em um silêncio que grita por liberdade. Nos tornamos meros reflexos de um sistema que finge inclusão, mas, no fundo, silencia nossas vozes e apaga nossa presença.

Percebo que todos, de alguma forma, escondem suas verdades para evitar o julgamento. Heterossexuais, cisgêneros, pessoas de todos os gêneros e orientações criam suas próprias máscaras para lidar com um mundo que insiste em padronizar e normatizar. Nos colocar em moldes, caixinhas, categorias, espécies, e seja lá como você queira chamar. A autenticidade virou um risco que poucos estão dispostos a correr.

Então, te pergunto: Qual é o custo de usar essas máscaras? A cada sorriso forçado, a cada piada contada, a cada trejeito demasiadamente exagerado, que você sabe que é forçado, só pra parecer "engraçado ou descolado", e cada gesto ensaiado, no qual parte de quem somos se perde. Nos tornamos personagens, caricaturas de nós mesmos, caricatas, hipócritas e rasos. A nossa essência se dissolve no meio desse teatro social. E assim, lentamente, vamos nos tornando estranhos a nós mesmos, esquecendo como é viver sem medo, sem disfarces.

Talvez um dia tenhamos coragem para derrubar esses muros invisíveis e nos reencontrar com a nossa verdadeira face. Mas, por enquanto, a sociedade segue desfilando com suas máscaras impecáveis, afundando cada vez mais em um vazio que nos isola e nos desconecta.

Então, me diga: Qual máscara vai usar hoje?