Tira a Mão do Meu bolso

No labirinto das oportunidades e das exigências desmedidas do mercado de trabalho, encontramos a história de João, um jovem recém-formado em Ensino. Com o diploma em mãos e uma bagagem de conhecimento acumulada em noites mal dormidas e horas de estudo intensivo, ele se lançou em uma busca incansável por uma vaga de professor. Contudo, ao invés de portas abertas, o que encontrou foram barreiras intransponíveis e exigências que pareciam mais absurdas do que razoáveis.

A primeira parada de João foi o mundo virtual, onde se deparou com uma infinidade de anúncios de emprego. "Vaga para Professores de Português", leu ele, o coração acelerado de expectativa. Mas, ao arrastar a tela para baixo, a alegria rapidamente se transformou em frustração ao deparar-se com a exigência de cinco anos de experiência. "Como posso ter experiência se nunca me deixaram trabalhar?", pensou indignado, questionando a lógica que permeava as exigências do mercado. Essa foi apenas a primeira de muitas desilusões.

Decidido a não se deixar abater, João optou por uma abordagem mais direta: visitou uma escola local e pediu para conversar com o diretor. Chegou ao gabinete com a confiança de quem sabe que suas notas falam por si. O diretor, ao avaliar o currículo de João, elogiou suas conquistas. Mas, como em um pesadelo, a conversa logo tomou um rumo inesperado. "Para te aceitarmos, precisaremos de um valor de refresco", sussurrou o diretor, revelando uma realidade cruel que desmoronou as esperanças de João. Cento mil meticais? O que deveria ser um convite ao trabalho transformou-se em um pedido escandaloso.

Desiludido, João saiu da sala, não sem antes fechar a porta com a força de quem se recusa a aceitar a corrupção que permeava a educação. A indignação por não ser considerado, apesar de seu talento, ecoou em sua mente. Mas sua busca não terminaria ali. Ele continuou a bater nas portas de diversas instituições, apenas para encontrar o mesmo padrão: exigências excessivas e o sentimento de que a sua dignidade estava sendo constantemente desafiada.

Cada vez que João se apresentava, era como se as portas se abrissem apenas para examinar seu bolso em busca de um passaporte carimbado, o que simbolizava o reconhecimento de um sistema que parece mais interessado em extorquir do que em ensinar. O sonho de ser professor, uma vocação nobre, se tornava um pesadelo repleto de desafios e injustiças.

Esta crónica serve como um alerta sobre o que muitos jovens enfrentam ao entrar no mercado de trabalho. O sistema educacional e profissional, que deveria ser um caminho para o desenvolvimento e a realização, muitas vezes se transforma em um labirinto onde os sonhos são sufocados por práticas corruptas e exigências irrealistas. E assim, a mensagem é clara: é hora de tirar a mão do bolso dos nossos jovens e oferecer-lhes a chance que merecem, sem condições ou subterfúgios. É hora de acreditar que a educação deve ser um trampolim, e não um fardo.

*MAGULAGUIZU* (Lourenço Magul)

*Ano*: 2020

Magulaguizu
Enviado por Magulaguizu em 30/09/2024
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