Boleto

Final de mês ou início de mês,

Ele sempre chega na caixa postal,

Mais certeiro que um tiro ao alvo,

Um boleto à pagar como penitência,

Um castigo por ter se mostrado,

Ter se dedicado cegamente por inteiro,

Ter acreditado em falsas essências,

Em crenças vãs de conexões irreais,

Uma punição por ter se importado,

Uma rasteira por ter tentado cuidar,

Por amar a quem não lhe tinha amor,

Por se doar a quem só queria utilidade,

Por ser responsável a quem não merecia,

Assim segue a sua pena de compromisso,

De palavra dada que não se quebra,

Sabendo, por alívio, que ela tem prazo,

Tem um final programado, um limite,

Depois, tudo seria apagado e jamais,

Jamais rememorado, tudo viraria cinzas,

Queimando na fogueira da liberdade,

O tempo é veloz, corre com o vento,

Logo, nem sua conta bancária lembraria,

Haveria só um recado interior, protetor,

Para jamais se envolver com alguém sem alma...