O convite
O fato relevante da semana é, para mim, um convite inusitado. Não diz respeito à partida de dominó, corrida 5 km, cervejas, passeios em praças, mas ainda assim é um caso a ser pensado.
A última vez em que eu fui "convidado" para um casamento eu era muito novo. Novo no peso, novo no tamanho, novo na idade. Possuía em torno de 15 kg, distribuídos em um esqueleto de aproximadamente 1 metro e dez pesados anos. Foi um casamento de um parente, cujo nome e lembrança esvaíram-se com o tempo e as distâncias. Ficaram-me, porém, algumas lembranças do evento, a que compareci levado por vó, mais por obrigação que por vontade.
Agora é diferente: já não estamos em 1997, já não tenho mais a presença física e a vontade incisiva de vó para me acompanhar ou me censurar, estou oficialmente na maioridade civil e posso, portanto, recusar o convite. Mas estou tendente a não fazê-lo, por motivos mais de ordem prática de que teórica. Sei que, estatisticamente, casamentos duram em média menos de 10 anos, são na maioria infelizes, onerosos e aproximam-nos do fim do mundo mais rapidamente. As festas de casamento, porém, são momentos interessantes, quando não deliciosos. Há geralmente muita comida, pessoas felizes, bebidas, sorrisos, votos de felicidades ao casal e à humanidade.
Não é todo dia que podemos está em um lugar assim tão interessante, alegre, próspero tanto no sentido etílico quanto religioso do termo. Daí a minha tendência a dizer "sim" ao convite, mesmo antes do "sim" da noiva. Contudo, uma preocupação besta me toma e pode frustrar o baile no Éden: não sei que presente levar para o casal. Sim, porque é preciso levar um presente, porque tudo hoje em dia tem um preço. Se tinha em 1997, imagina agora. Um preço corrigido pela inflação, inclusive.
Estou aqui, deitado, com o teclado na mão, pensando em que presente levar para os noivos. Já não tenho a presença física de vó para me aconselhar nem me emprestar sua muringa. Disse-me um parente meu, estes dias, que o casal de 1997 já se separou, a muringa com que vó os presentou, entretanto, ainda esta ativa e gelando água que é uma beleza.
Bem que eu poderia comprar uma muringa e dar de presente ao casal, como fez vó em 1997. Não sei, no entanto, se seria um presente bem visto pelos presentes, afinal estamos em 2024, o que é impressionante e assustador ao mesmo tempo agora, principalmente para vó, que me dizia que os anos 2000 não chegariam. Não sei se cairia bem um presente tão antigo para uma época tão atual.
Estou, em minha condição de homem solteiro, tentando pensar em algo mais moderno e prático para presentear o casal, mas há um chiado ameaçador para os lados do fogão a me interromper o fluxo de desespero. É a panela de pressão e seu chiado assustador.
Na época de vó, não tinha isso. A comida era feita em panela de barro, a água era gelada na muringa, e eu não perdia tempo preocupando-me com que presente presentear um casal cujo casamento, estatisticamente, está fadado a acabar antes de completar uma década.
Porém, hoje em dia, felizmente nem tudo é pressa e desespero. Há, ainda que no caos, uma certa ordem, que nos permite certo fluxo de lucidez. A mesma panela de pressão e seu chiado ameaçador acabam de me presentear com uma sugestão atual para presentear o casal com um presente contemporâneo, versátil e condizente com as boas práticas do mercado: uma panela de pressão elétrica.
Uma panela de pressão elétrica, sim, afinal estamos em 2024, época em que já não fabricam tantas muringas, as panelas de pressão normais estão entrando em extinção, dando lugar e vez às panelas elétricas. Porque o mundo tem pressa, e a ideia de que panela velha é que faz comida boa já não voga mais. Portanto, nada mais atual e casamenteiro que presentear um casal moderno, numa época moderna, com uma modernidade. Isto e´, com uma panela de pressão elétrica, eficiente, silenciosa, prática: é só colocar os ingredientes, ajustar a pressão e esperar a mágica acontecer.
Só não decidi ainda o modelo. São tantos, e tamanhos, e preços, e cores, que nem sei por onde começar. Será que tem alguma modelo Brastemp?