Dupla Cidadania
Crônica
Dupla Cidadania: Um Passaporte e Duas Almas
Ao longo da vida, somos moldados por diversas influências, tradições e memórias que nos definem. No meu caso, essa formação se mescla entre as cores da bandeira do Brasil e o verde, branco e vermelho da Itália. A minha dupla cidadania, que por tanto tempo foi um sonho distante, finalmente se concretizou no dia 03 de março de 2023, quando recebi meu passaporte italiano.
Sentir aquele documento nas mãos foi como abrir uma porta que estava trancada há gerações. Era um pedaço da história de meus avós paternos, que deixaram a terra natal em busca de novas oportunidades e que, por meio de suas lutas e conquistas, me legaram não apenas um laço sanguíneo, mas uma identidade rica e plural. Ali estava a materialização de uma herança que ultrapassa fronteiras, uma conexão com uma cultura que carregamos, mesmo que muitas vezes de forma sutil.
Enquanto folheava as páginas do passaporte, as memórias de domingos na casa da nonna começavam a tomar forma. O cheiro do molho de tomate, os risos das conversas em italiano, as histórias de amor e guerra que eram contadas com entusiasmo e saudade. A cada palavra, me sentia mais próxima de uma nação que, mesmo à distância, sempre pulsou dentro de mim.
O orgulho que emanava nessa cerimônia íntima era uma celebração de identidades. Eu não era apenas brasileira; eu também era italiana. Essa dualidade me permite abraçar duas culturas, dois legados, e uma perspectiva mais ampla sobre o mundo. Minha cidadania italiana não é apenas um documento, mas sim um convite para explorar, aprender e homenagear as raízes que me sustentam.
Descer pelas ruas de Roma ou mergulhar na agitação da festa junina em minha cidade natal, a riqueza da minha cidadania é um lembrete constante de que pertencemos a mais de um lugar. Com o passaporte italiano em mãos, abri não apenas uma nova possibilidade de viajar, mas uma porta para um legado que quero preservar e compartilhar.
Assim, celebro não apenas a conquista deste documento, mas também a história que ele representa. É um tributo à coragem dos meus antepassados e à riqueza da diversidade cultural. Minha dupla cidadania é um laço que entrelaça o passado e o futuro, e um convite ao orgulho de ser quem sou: uma brasileira com um coração italiano.
Vera Salbego
Professora Escritora