O escravo Branco. Vida real
O ESCRAVO BRANCO.
No outro lado do tempo.
Ano de 1967.
O ESCRAVO BRANCO.
Quando comecei a vender madeira para a fábrica Oshakati, eu não tinha licença de exportação, e tudo dependia de Sá da Bandeira. Por isso, durante um ano, um senhor de Sá da Bandeira, chamado Borges, tinha um negócio de frutas em R.A.S e Sá da Bandeira: importava e exportava mercadorias. Alguém mo indicou e eu fui falar com ele. Ele só preenchia os papéis e assinava. E a madeira começou a ir para o nome dele. Resultado: como os pagamentos vinham em nome dele, 20 por cento era a sua comissão. Mas, mesmo assim, eu ganhava mais que vendendo em Angola. em relação ao preço que fazia, ao trabalho que tinha de fazer, e as despesas também eram menores. E assim nunca mais vendi um metro de madeira a Angola.
Continuava a ser um escravo branco, mas com uma certa liberdade.
Um dia começou a escrever-se a minha carta de liberdade. Acabou a administração de Pereira d'Eça e nasceu o DISTRITO DO CUNENE. E assim todas as competências que lhe diziam respeito foram transferidas para o novo distrito.
Incluindo a Alfândega e a Agricultura, das quais eu dependia para cortar a madeira e obter as minhas licenças. Só faltava uma licença de exportação em meu nome. Assim, fui a Luanda com uma carta particular para o Diretor Geral das Florestas, que era amigo pessoal do Diretor Geral das Alfândegas,
Com todos os documentos em ordem, e a recomendação do chefe das alfândegas, Pereira d'Eça, garantindo tudo em meu nome.
E assim foi:
1º Do chefe da Alfândega recebi todos os documentos, informou-me e deu-me tudo num envelope fechado:
2º O Sr. Pestana, chefe da secção da Agricultura, fez o mesmo.
3º A mulher do Sr. Pestana era amiga pessoal da mulher do Diretor Geral das Alfândegas de Angola, de quem dependia a aprovação das minhas licenças de exportação.
4º Lá vou eu com dois envelopes fechados, mais uma carta para a esposa do Diretor Geral das Alfândegas, cuja residência era na Maria da Fonte, não me recordo o número, gentilmente feita pela esposa do Sr. Pestana.
Entreguei tudo num certo dia à tarde, pois estava a viajar de avião desde Sá da Bandeira. A senhora disse-me que voltasse no dia seguinte à tarde porque ia falar com o marido. Ela leu várias vezes a carta da sua amiga e olhava para mim. Sinceramente, senti-me um “zé-ninguém”.
A senhora recebeu-me com a maior simpatia e respeito. No dia seguinte voltei lá e a senhora disse que tinha dado toda a documentação ao marido, que tinha visto tudo, e que eu podia ir embora que a resposta iria diretamente para a alfândega de Pereira d'Eça.
Mais um dia, apanhei o avião para Sá da Bandeira, e no dia seguinte voei para Pereira d'Eça.
Apenas quatro dias passaram entre a minha estadia em Luanda e o meu regresso.
Quando cheguei a Pereira d'Eça, a ordem comunicada por telefone já era conhecida.
O Sr. António Luís Alves estava registado como exportador e importador nos respectivos serviços em Luanda e tinha sido comunicado à Delegação Distrital do Cunene.
E ASSIM TERMINAVAM OS DIAS DO ESCRAVO BRANCO.
Esta comunicação era a minha carta de alforria.
“O descanso eterno a essas pessoas que tornaram a minha libertação.