Entre o hoje e o amanhã - BVIW
Há alguns dias, como todas as pessoas do país, fui surpreendida pela queda de um avião em Vinhedo. Mas para mim foi um pesadelo maior, já que tenho uma filha e sua família que residem nessa cidade. Quase morri de susto quando vi o noticiário, mas graças a Deus logo deram a localização e vi que não havia nenhuma vítima atingida no solo, que a tragédia havia sido com aqueles que vieram pelos ares. Fiquei pensando como a nossa vida é efêmera, como o destino da gente pode mudar de repente, e fazer um final inesperado em nossa história. Cada um que estava no avião naquele dia saiu do cenário deste mundo e de repente virou saudade, não houve um amanhã para ninguém da viagem.
Fico pensando na vida nessas horas. O nosso mundo tem passado por transformações extraordinárias neste último século. O passo entre a ciência e as relações humanas deram um salto maior que as nossas pernas, e tem muita gente ainda tentando acertar o passo para se ambientar nessa nova era onde a tecnologia está assumindo o comando, substituindo nossos braços, nossos sonhos e até nossa inteligência que agora se desdobrou em artificial. Pelo que conhecemos da história, isso era inevitável, o homem cada vez mais se supera na relação com o conhecimento e faz descobertas maravilhosas, que tanto pode nos levar para o caminho do bem como para o mal.
Mas o que me preocupa nessa corrida são os tropeços que o homem dá. E neles, o maior de todos é a falta de consciência como o planeta que nos sustenta, com a mãe natureza que nos alimenta e com a terra que ele cobre cada vez mais com cicatrizes. A fome do poder e a ganância do ser humano faz a morte das nascentes, a poluição dos rios, o extermínio de nossas florestas e o enlouquecimento do clima. Já não temos mais a terra em equilíbrio nas suas estações, nem a fotografia do planeta colorido de verde nas fotos de satélites, pois cada vez mais nosso solo é demarcado por cinzas, fogo, enchentes e morte. Mas são poucos aqueles que lutam contra a barbárie vegetal, que tem sua voz ouvida e sua bandeira abraçada na luta contra a impunidade dos que destroem nossa riqueza natural.
Lembrando a história que sobrou dos vestígios, penso na era Jurássica, que de um dia para o outro varreu dessa terra seus habitantes, seres bem mais potentes fisicamente que os humanos e que tinham o domínio do espaço em que viviam. De repente, não houve um amanhã e todos se tornaram fósseis, testemunhas de uma era que se enterrou entre as cinzas.
E se para nós também de repente não houver um amanhã? Está nas mãos do próprio homem cuidar do dia de hoje para que no amanhã não sejamos só imagens, como são hoje os dinossauros.