O PODER TIRA A SIMPLICIDADE?

JOEL MARINHO

É notório como a sociedade molda seus cidadãos e os torna uma ilha em meio a um todo, mesmo tendo uma constituição a qual nos referenda como sendo todos iguais a realidade é bem diferente dependendo do nível de saber, de poder econômico o lugar que cada um ocupa, e isso já está pré-definido cultural e socialmente.

Mas o porquê estou falando isso?

Porque venho percebendo já algum tempo a forma como sou percebido pelas pessoas conhecidas, mas sobretudo como as desconhecidas me enxergam, a maneira de tratamento subserviente por conta de um saber acadêmico que me deu alguns títulos e não sem muitos esforços, tenho consciência disso, porém em nenhum momento esse poder a mim atribuído me subiu à cabeça e me fez soberba.

Na verdade, por vezes me sinto um pouco desconexo dessa realidade quando vejo alguém me tratando como um ser superior sendo eu apenas o Joel de sempre. E sim, tenho consciência do que sou, da minha responsabilidade quanto profissional, no entanto, sem perder a minha maior essência, a simplicidade que prezo com todas as minhas forças.

Sendo eu um sobrevivente da falta de oportunidades e ter conseguido galgar alguns degraus na sociedade a mim negado não seria, do meu ponto de vista, coerente negar o meu lugar de origem só pelo fato de ter alcançado alguns privilégios.

Eu tenho pouca coisa ou quase nada, mas no sentido de saber acadêmico consegui algum poder e mesmo sabendo disso não me sentiria bem usar dessa prerrogativa para ser soberbo e humilhar quem quer que fosse, vou continuar sempre o mesmo, sabendo do lugar que ocupo, de acordo com o que a sociedade formatou, porque do meu ponto de vista esse poder não tira a simplicidade de ninguém, a não ser que a pessoa já tenha o caráter inclinado para isso.

Enfim, o poder não tira a simplicidade, apenas expõe o que de fato a pessoa já é.