A Dança das Sombras: Analfabetismo Político e a Corrupção Conivente
Em um país onde os rios da corrupção parecem fluir como a água fresca nas veredas, há uma dança peculiar que seduz os olhares das pessoas. Essa dança é feita por sombras, aquelas que se movem em torno do palácio do Planalto, dos parlamentos e das grandes corporações. São sombras que, muitas vezes, se vestem de terno e gravata, mas cujos passos deslizantes falam mais alto que qualquer discurso bonito sobre moral e ética.
A sociedade brasileira, como um grande teatro, tem seus protagonistas e figurantes. Os protagonistas costumam ser os políticos de esquerda, frequentemente alvo de uma crítica afiada que os imputa a pecha da corrupção. Para muitos, a simples menção de um escândalo envolvendo um nome ligado a um partido de orientação mais progressista é suficiente para acionar o alarme da indignação. E assim, como num reflexo imediato, as redes sociais fervilham em ejaculações de horror e repúdio. “Como isso é possível?”, perguntam, com fervor quase religioso, sua moralidade em choque.
Mas a cena muda dramaticamente quando o foco se desloca para a direita política. A acusação de corrupção, nessa nova luz, parece desbotar. Um marmoreio complacente se apodera da conversa pública, como se uma mão invisível estivesse erguendo barreiras protetoras em torno dos políticos e empresários que compõem essa elite bem-falante. São aquelas figuras que, entre jogadas de marketing e slogans sedutores, oferecem a promessa do sucesso econômico e da ordem. “Isso é só política”, muitos afirmam com um aceno de desprezo, ignorando que a corrupção manifesta-se nos dois lados do espectro. Para eles, a moralidade é maleável, sujeitando-se às conveniências do momento.
Esse fenômeno revela um nível profundo de analfabetismo político, um despreparo para compreender que a corrupção não escolhe lado. É um vício da máquina pública que se alimenta da ignorância e da conivência, e que prospera em um terreno fértil, onde ideias e valores são trocados por promessas vazias, quase como um passe de mágica que favorece uns poucos em detrimento da coletividade.
O que se assiste, então, é uma divisão quase dicotômica na percepção popular. De um lado, os vilões caricaturais, de terno azul; do outro, os heróis de um ideal progressista, acossados por pesadas acusações que se tornam o centro do debate. A crítica não é direcionada à ação em si, mas à cor do paletó, à narrativa que se acopla ao movimento. Assim, nos tornamos reféns de nossas próprias crenças, discutindo com ardor moral mas, ao mesmo tempo, deixando de lado a responsabilidade de exigir ética, integridade e transparência de todos, indistintamente.
A verdadeira urgência, portanto, está na educação política. Precisamos aprender a desafiar e questionar, a manter um olhar crítico sobre todos aqueles que ocupam cargos públicos e a recusar as narrativas que servem apenas para acobertar a corrupção. É preciso, acima de tudo, investir em um diálogo que transcenda o imediatismo das acusações e que nos conduza a um entendimento profundo sobre o que realmente está em jogo.
A dança das sombras seguirá seu movimento, enquanto os reflexos na parede não se tornarem claros. A corrupção não é, e nunca será, uma questão de partido. Ela é uma questão de princípio, de ética e de compromisso com o povo. É hora de acordar e iluminar as sombras que nos cercam, para que a convivência pacífica com a corrupção não seja mais um ato comum em nosso teatro político.