O Chapéu de Palha e a Cachaça Eleitoral
Estamos novamente em época de eleições municipais, e o ciclo se repete como um drama político que teimamos em reviver. A cada quatro anos, surgem os personagens que carregam bandeiras coloridas, discursos fervorosos, e, claro, promessas vazias. Mas o que mais me inquieta não são as promessas, mas sim o voto daqueles que, no fundo, não sabem exatamente o que estão fazendo.
Vejo que o analfabetismo funcional se espalha como uma praga nesse período. Não falo apenas daqueles que não conseguem interpretar um texto, mas de algo mais insidioso: a incapacidade de interpretar a realidade política que os cerca. O povo, muitas vezes, se deixa encantar por figuras que parecem estar do lado deles, que usam o chapéu de palha, bebem cachaça com os pobres e se autodenominam "gente do povo". No entanto, essas pessoas não passam de atores, aproveitadores treinados, que sabem como manipular as emoções daqueles que não têm tempo, ou talvez nem oportunidade, de entender o que está realmente em jogo.
Veja o exemplo do prefeito de Porto Alegre. Em maio, uma enchente afogou o centro da capital, e as promessas de obras de infraestrutura para mitigar desastres como esse ficaram submersas junto com os carros e casas. Ainda assim, o prefeito surge, com seu chapéu de palha e sua cachaça na mão, circulando pelas ruas alagadas, e o povo aplaude. "Esse nos representa!", gritam alguns, sem perceber que, na verdade, são apenas figurantes no grande teatro político.
O prefeito, com sua imagem bem calculada, não é um homem do povo. É alguém que soube se apropriar dos símbolos populares para manter seu lugar privilegiado. Ele não caminha nas ruas alagadas por solidariedade, mas por estratégia. A cada gole de cachaça, a cada aperto de mão, ele garante mais um voto, mais um pouco de poder. E o povo, que poderia estar lutando por alguém que realmente defenda seus interesses — alguém que se preocupe com sustentabilidade, com os menos favorecidos, com a infraestrutura da cidade — acaba caindo na ilusão da representação.
O mais triste é perceber que esse fenômeno não se restringe a Porto Alegre. É um retrato comum em várias cidades, onde figuras carismáticas se apresentam como salvadores, quando, na verdade, são lobos vestidos em pele de cordeiro. Manipulam as massas com gestos simples e simbólicos, mas vazios de ações reais.
A democracia é uma ferramenta poderosa, mas quando mal utilizada, pode se tornar o meio pelo qual os piores tipos se perpetuam no poder. Precisamos aprender a distinguir o que é teatro do que é verdade. E, principalmente, precisamos votar com consciência, analisando não apenas as palavras, mas as ações de quem está à frente.
O chapéu de palha e a cachaça podem até simbolizar o povo, mas não podem ser a base para decidir o futuro de uma cidade.